sábado, 26 de março de 2016

"A China não se define, só se respira e sente"


“A China absorve-nos, narcotiza-nos, prende e domina, como regra geral, o nosso espírito, invade tudo, o raciocínio e o sentimento, como uma teia invisível que aperta, pouco a pouco, insensivelmente, que nos sufoca, esgota e cansa!
A China é traiçoeira e calma, insinua-se quanto mais se aborrece, deseja-se quando se odeia, aspira-se como uma necessidade, a China, que quase até nos mata!
A China é como uma feiticeira que tem sortilégios, é a cartomante terrível que parece escrever o nosso destino com letras invisíveis: há no seu ambiente um sopro de agoiro, uma agonia, uma tristeza, uma tortura, que se recebem sem custo e com prazer, como uma necessidade fatal da nossa existência.
A China é o mistério que ri e que dança na frente de nós, numa volúpia dolorosa do espírito duende, a China é a mensageira do desconhecido que perturba, enerva, envenena e vence.
A China é tudo isso e muito mais ainda que a minha pena não sabe descrever, a China não se define, só se respira e sente, como um veneno imprescindível a quem uma vez o provou.” Jaime do Inso

Imagens de uma edição do livro "China" de Jaime do Inso, profusamente ilustrada. Edições Europa 1936

Jaime do Inso foi um oficial da marinha Portuguesa que serviu em Macau e participou na pacificação de Timor em 1912. Era membro da geração de orientalistas portugueses juntamente com nomes como Wenceslau de Moraes, Alberto Osório de Castro e Camilo Pessanha, e escreveu vários livros e opúsculos sobre a China e Macau.
Os seus livros são uma referência para o conhecimento da presença portuguesa no Oriente pois era um verdadeiro apaixonado por Macau e pela China.
Alguns exemplos:
Cenas da Vida de Macau
O Caminho do Oriente
O caso da rua Volong

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