segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Apontamentos para a história de Macau: 1883

"Apontamentos para a história de Macau" de J. Gabriel B. Fernandes, "bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, empregado no Ministério dos Negócios da Fazenda e natural da Cidade de Macau" foi impresso em Lisboa pela Typographia Universal em 1883.
José Gabriel Bernardo Fernandes (1850-1914), jornalista e historiador, autor dos «Apontamentos para a história de Macau» (Lisboa, 1883), da «Relação dos bispos de Macau» (1884) e de «Jornalismo em Macau», tendo colaborado no Jornal de Coimbra, no Conimbricense e no Impulso às Letras, de Hong Kong. Era filho de José Gabriel Fernandes (1816-1883), fundador do semanário histórico e literário «Ta-Ssi-Yang-Kuo – Semanário macaense d´interesses publicos locaes, litterario e noticioso»
Recostada em várias colinas da pequena e montanhosa península, apresenta a cidade macaense, contemplada do Porto Exterior, um panorama surpreendente e encantador. O pitoresco aspecto da sua principal rua, Praia Grande, semeada de elegantes edifícios de arquictetura europeia, e terminada ao nascente por um vistoso jardim público, as suas igrejas, os seus fortes, renques de árvores plantadas aqui e acolá, e diversas casarias chinesas de fantasioso e agradável gosto, impressionam sobremodo o viandante”
O livro tem 78 páginas e inclui uma planta de Macau e dos seus portos aduaneiros internos e externos, com indicação dos portos aduaneiros chineses modernamente estabelecidos, 1870.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Um canhão da fortaleza do Bom Parto

No passado dia 9 de Outubro, o Instituto Hidrográfico, a convite do Director-geral, CALM José Luís Branco Seabra de Melo, recebeu a visita do Capitão-de-mar-e-guerra SEH REF Fernando Guerreiro Inácio, oficial que desempenhou as funções de Director de Apoio desta instituição, entre 2002 e 2005.
Durante a visita, o Comandante Guerreiro Inácio ofereceu um canhão de ferro - peça de artilharia de Defesa do Porto de Macau - tendo este precioso objecto sido colocado no edifício do Comando da Base Hidrográfica, no Seixal, o qual vem enriquecer o pólo museológico da instituição.

Esta peça de artilharia pertenceu à Fortaleza do Bomparto, edificação que fazia parte das defesas de Macau. Trata-se de um canhão em ferro coado de 132 cm com diâmetro de boca de 90 mm. O canhão ostenta a “Coroa Real de Portugal e letras B P” e está montado em carro de madeira, com um peso aproximado de 250 quilogramas.

Em baixo do lado direito pode ver-se a zona da antiga fortaleza

Peça de artilharia de defesa do Porto de Macau Peça de artilharia de defesa do Porto de Macau Pertenceu à Fortaleza do Bomparto que fazia parte das defesas de Macau. Canhão em ferro coado de 132cm com diâmetro de boca de 90m/m. Ostenta a "Coroa Real de Portugal e letras B P". Montado em carro de madeira, com peso aproximado de 250kgs. Fundido na Fundição do Oriente, “…que funcionou em Macau até meados do século XVII, sob a direcção de Manuel Tavares Bocarro, a melhor fundição do Oriente e uma das melhores de todo o mundo, que armou todas as Fortalezas de Macau em ferro e bronze.” 

A Fortaleza do Bomparto à Penha, fronteira à praia de Cacilhas, fazia parte das defesas de Macau, para repelir os ataques de holandeses, ingleses e piratas do sul da China. Defesas essas "…implementadas pelo 1º Governador e Capitão-Geral D. Francisco de Mascarenhas que tomou posse em 17 de Julho de 1623." Posteriormente foi a residência do Capitão dos Portos de Macau até 1997, depois passou a ser e actualmente constitui uma área adjacente do Hotel Bela Vista, actual residência do cônsul português em Macau e Hong Kong.
As citações são do livro "Unidades Militares de Macau", 1ª edição Gab. Forças de Segurança de Macau, 1999, da autoria de Armando António Azenha Cação, Coronel de Engenharia. 
Agradecimentos: Carlos Gomes.
NOTA: No dia 31.12.2015 recebi um e-mail de Armando Cação com o seguinte teor:
"(...) a peça é de ferro fundido, de origem inglesa, feito por Bailey, Pegg e Companhia. Terá ido para Macau por volta de 1870, com outras peças ainda hoje existentes, para substituir as antigas peças de Bocarro, que foram consideradas obsoletas e vendidas, depois de serradas." Ou seja, a peça referida neste post "não é uma boca de fogo feita em Macau, nem da autoria de M. T. Bocarro."

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

"Macau é um problema legado pela História"

Excerto de uma entrevista a Ramalho Eanes conduzida por Gonçalo Lobo Pinheiro e publicada no Hoje Macau de 25.11.2015. O ex- PR tem uma forte ligação ao território.
Foi uma das personagens mais importantes da história portuguesa contemporânea. Hoje, no dia em que é agraciado em Manila com o Prémio Internacional da Paz, António Ramalho Eanes, nascido em Alcains, concelho de Castelo Branco, fala de um trajecto de vida que passou por Macau, ainda na condição de Capitão do exército português. O antigo Presidente da República Portuguesa – cargo que ocupou de 1976 a 1986 -, relembra a “Questão de Macau” e como o território foi sempre um ponto delicado em todo o processo negocial que conduziu ao estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a China no dia 8 de Fevereiro de 1979. (...)
Como disse, a sua ligação ao território é já antiga. Está ligado à história de Macau na condição de militar, como Capitão (1962-63). O que recorda desses tempos?
Recordo, sobretudo, Macau do “meu tempo de capitão” – tranquilo, pouco desenvolvido, quase paroquial mas, também, já cosmopolita. Os macaenses, essa quase “nobreza” cultural, tão bem e tão tolerantemente representada nesse casamento de mútuo consentimento entre a grande China milenar e Portugal, país que, sendo exíguo e excêntrico, fôra capaz de oferecer ao mundo a primeira mundialização – a do espaço finito, lhe chamaram intelectuais e geoestrategas de renome. Macau era, então, uma terra de convivial respeito luso-chinês, uma terra predominantemente chinesa (como não poderia deixar de ser), com uma cultura distintiva – a macaense – em que as culturas, lusa e chinesa, harmoniosamente, se haviam sintetizado.
Em Coloane existe um Largo do Presidente António Ramalho Eanes. Como se sente com esse facto?
De Coloane lembro a sua beleza, o encanto das suas terras de Cheoc Van, de Hac-Sá e Ká Hó. A minha primeira unidade como comandante (responsável por Coloane e pela Taipa), os meus militares, os amigos chineses (em especial, os senhores Veng-On e Ven-Kei) e os amigos luso-chineses (nomeadamente, o então comandante da polícia e, depois, meu compadre e grande empresário, Dias Ferreira), com os quais muito aprendi e que, com saudade, recordo. Recordo, com saudade também as praias quentes de Coloane. A praça com o meu nome significa, para mim, o reconhecimento pelo amor que dediquei e dedico àquelas terras, às suas gentes de então, que continuidade e unidade terão nas gentes de hoje.
E sobre a famosa “Questão de Macau”. As negociações com a China e com o seu homólogo Deng Xiaoping foram difíceis?
Não, não foi difícil o diálogo com Deng Xiaoping, que bem conhecia Macau, a sua história e o seu presente, de então. E não foi difícil porque, diria, todos “os jogos já estavam feitos”. E permitir-me-ia aproveitar a sua pergunta para relembrar que um primeiro passo desses “jogos” terá sido dado logo a 6 de Janeiro de 1975. Em nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) português, publicada pela imprensa, se refere que, para o governo português, o governo de Pequim era o único representante de todo o povo chinês; que a Formosa era parte integrante da República Popular da China, que o território de Macau poderia ser objecto de negociação no momento considerado oportuno por ambos os governos e que Portugal assumiria, entretanto, a plena responsabilidade pelo respeito rigoroso dos direitos dos cidadãos chineses residentes em Macau. A 13 de Janeiro de 1975, através do porta-voz do MNE de Pequim, declarava a China que o governo da RPC considerava com simpatia a nota do governo português, que a posição sobre a Formosa era satisfatória, mas que subsistia, infelizmente, uma diferença entre as posições dos governos chinês e português sobre Macau.
Macau sempre no caminho…
Entendia a China que Portugal não fora claro em relação à situação de Macau, em não o reconhecer explicitamente como território chinês. Em 1978, o Embaixador da China em Paris teve vários encontros com os sucessivos ministros dos Negócios Estrangeiros de Portugal, designadamente Melo Antunes, Sá Machado, Mário Soares por várias vezes, e, por último, Freitas Cruz, e nem a mudança tão frequente de responsáveis prejudicou a nossa actuação em Paris, ao menos do ponto de vista das orientações e instruções quanto à China. A intenção de firmar um acordo entre Portugal e a RPC data do II Governo. A assinatura não se fez, então, por duas razões: primeiro, devido a dificuldades levantadas em Conselho de Ministros por um ministro que não o dos Negócios Estrangeiros e, segundo, devido à exoneração do Primeiro-Ministro Mário Soares.
E quando é que as partes se começaram a entender?
Os termos do acordo foram encontrados em Junho/Julho de 1978. O processo é plenamente retomado durante o IV Governo (Mota Pinto) e, na sequência de aturadas negociações, tudo ficou pronto para a cerimónia da assinatura do acordo, que deveria ter lugar a 10 de Janeiro de 1978, na Embaixada de Portugal em Paris. Os textos, nas suas três versões, bem como o local e a hora da assinatura, tinham recolhido a aprovação dos chineses. Combinara-se que à assinatura do acordo, na manhã desse dia, se seguiria a publicação de um comunicado oficial, simultaneamente em Lisboa e Pequim. Com surpresa, na véspera do dia da assinatura, ou seja, no dia 9, o nosso embaixador em Paris recebeu, do governo português, a indicação para pedir quatro modificações nos textos já acordados e que tinham sido já lidos pelos ministros Sá Machado, Correia Gago e Freitas Cruz, pelos primeiros-ministros e pelo próprio Presidente da República, cuja opinião era inteiramente favorável. O primeiro-ministro Mota Pinto conhecia igualmente os textos ao ponto de ter manifestado a vontade de ser ele a ler o comunicado.
Qual a reacção do lado chinês?
Apresentado o pedido ao embaixador chinês, este, feitas as necessárias consultas, transmitiu a aceitação de três das quatro modificações sugeridas, tendo recusando apenas uma. Surpreendentemente, a parte portuguesa voltou ao ponto inicial, tendo retirado todas as modificações que anteriormente propusera, sugerindo, em contrapartida, a introdução de uma nova. Na previsão da parte chinesa se declarar impossibilitada de considerar nulas as alterações concedidas e de não acordar na que só então propusera, o nosso Embaixador recebeu instruções do governo no sentido de que, nessa hipótese, devia suspender a assinatura do acordo, sem deixar romper as negociações. A RPC, estranhamente, aceitou a alteração tão extemporaneamente apresentada pelo governo português. Finalmente, o estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a China foi assinado no dia 8 de Fevereiro de 1979, na nossa embaixada em Paris.
E Macau, como ficou no meio disso tudo?
Existiu em todo o processo negocial um ponto delicado, que foi o de Macau, que a parte chinesa, após a abertura das negociações, colocara como questão prévia. Todavia, o realismo de ambas as partes e a vontade de chegar a um acordo permitiu que, sobre Macau, se chegasse a um entendimento que prevaleceu e se consignou no acordo assinado. Assim, existia uma posição de princípio – chinesa – sobre o caso, mas havia também o reconhecimento do peso da História. Macau é um problema legado pela História. A admissão desta proposição por ambas as partes era fundamental: nem nós podemos modificar a posição chinesa de princípio, nem os chineses negam o facto histórico. Admitido isto, fixou-se o compromisso, por uma e outra parte, de que nunca se recorreria à iniciativa unilateral no sentido de uma modificação do status quo, nem via de abordar o problema que não fosse a da negociação, em momento considerado oportuno por ambas as partes. Lembrava, ainda, a propósito desta primeira fase, que a Assembleia da República felicitara, a 10 de Fevereiro de 1979, o Embaixador de Portugal em França pela conclusão das negociações com a República Popular da China, não tendo sido, na altura, considerado como factor impeditivo de tal gesto o desconhecimento do próprio texto do acordo.
Durante os anos subsequentes, a questão de Macau terá sido devidamente abordada pelos responsáveis das duas partes.
A questão de Macau volta a ser abordada na comunicação social portuguesa – já na segunda fase, ou seja na fase pós-negocial – a propósito da visita do Vice-Primeiro-Ministro, Carlos Alberto Mota Pinto, à RPC, efectuada em Maio de 1984. Fazendo fé no relato do Embaixador de Portugal em Pequim, o ministro dos Negócios Estrangeiros da RPC referira, em tal oportunidade e a propósito de Macau, que a evolução da questão não iria trazer dificuldades a Portugal, sendo seguro que os interesses portugueses não deixariam de ficar acautelados. Embora as autoridades chinesas não tivessem ainda estudado detalhadamente o problema, afigurava-se-lhe que o estatuto que iria reger futuramente o território de Macau seria tendencialmente idêntico ao que fosse acordado, com as autoridades britânicas, para o território de Hong Kong. A visita que o Primeiro-Ministro Mário Soares efectuara ao Japão em nada viera alterar os dados da questão.
O que é que Portugal ganhou e perdeu com a transferência de soberania?
É, para mim, contabilidade bem difícil de fazer. O realismo da racionalidade leva-me a entender e a aceitar que é preciso fazer, e fazer bem, o que indispensável e inevitável é, histórica, política ou, mesmo, economicamente. Razão, entendo eu, tinha Kant quando afirmava: confio “na natureza das coisas, que obriga a ir para onde de bom grado se não deseja”. Nesta perspectiva, fez-se o que tinha de ser feito e fez-se, em minha opinião, bastante bem: salvaguardada se manteve a cultura de Macau, naquilo que ela tem de distintivo, e que é um apaixonante e quase indecifrável sincretismo sino-luso e os seus interesses específicos. Creio que muito importante será Macau para a China, potência de milenar preocupação meritocrática pelos saberes acumulados pela acção de um mandarinato, pela capacidade de se renovar e, mesmo, quase, de renascer, com o compreensível propósito estratégico de ser uma superpotência mundial, uma superpotência “tranquila” (espera-se).

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Jantar no Palácio da Praia Grande: 20 Novembro 1952

Ementa: creme de ervilhas, peixe com "escamas", medalhões de faisão, sorve e fruta fresca.
Segundo Fernando Lameiras e Ambrósio Tang: Ao centro Roque Choi e à sua esquerda Ma Man Kei.  O homem da direita com óculos é o Dr. Nye (médico) e a senhora do centro junto à parede é Luíza Choi, irmã de Roque Choi, que foi directora da escola Luso Chinesa Sir Robert Ho Tung e Presidente da Assoc. das Senhoras Chinesas.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A BD Rendez-Vous a Macao / Encontro em Macau

Em 1985, era eu ainda estudante no Liceu Nacional Infante D. Henrique, na Praia Grande. Nos tempos livres, para além de praticar desporto e estar com os amigos, ouvia a Rádio Macau e participava com alguma frequência nos passatempos. Foi numa dessas situações que fui premiado com um conjunto de fascículos do Jornal da Banda Desenhada (que ia no seu ano IV de edição) e que era distribuído semanalmente com o semanário “Expresso” e que era “transportado para Macau pela Swissair”. Esses fascículos tinham curiosamente o patrocínio do Turismo de Macau e foi assim que ao ir levantar o prémio à Livraria Portuguesa (ainda hoje o guardo) deparei com o herói de banda desenhada Michel Vaillant em destaque na capa da edição nº 153 – 20º volume/1º fascículo com um custo de 70 escudos. Nessa edição estavam várias personagens de banda desenhada (Justin Hiriart, O Príncipe Manco, Lucky Luke, etc…) mas a que mais me cativou, porque até então a desconhecia, foi a a figura criada por Jean Graton. Li tudo de fio a pavio, entre os fascículos 153 e 160. Michel Vaillant é um personagem de banda desenhada da autoria do francês Jean Graton. O autor misturou realidade e ficção e colocou Michel a conviver com os maiores campeões de sempre do desporto automóvel. Centrando a sua carreira na fórmula 1, não deixou de participar nas várias disciplinas do desporto motorizado: Paris/Dakar, mundial de ralis, 24 horas de Le Mans…
Michel Vaillant é piloto da equipa do pai, Henri Vaillant, proprietário dos motores Vaillant usados nessas corridas. O seu irmão Jean-Pierre, é o construtor. A estreia de Michel Vaillant aconteceu a 7 de Fevereiro de 1957, na revista «Tintin» n.º 433. Nos anos noventa, o seu filho, Philippe Graton passou a colaborar nos argumentos. As aventuras de Vaillant foram editadas inicialmente, em Portugal, através da revista “Cavaleiro Andante”. Em 1983 o Grande Prémio de Macau seria escolhido pelo autor para mais uma edição de Michel Vaillant, a nº 43, intitulada “Rendez-Vous a Macao”, traduzido por “Encontro em Macau”. Os textos e desenhos são da autoria de Jean Graton, os cenários de Chr. Lippens coloridos por Juan Castilla.  
A história desenrola-se enquanto decorre uma edição da prova no território e a equipa Vaillant aproveita para se reunir com um possível parceiro asiático. No entanto, trata-se de uma operação de grande envergadura, a qual deve-se manter “secreta”, para evitar qualquer tipo de vigilância ou interferência da concorrência. Só que para ganhar os futuros associados é imperativo que os dois carros Vaillants vençam no grande prémio conseguindo fazer face às manobras maquiavélicas de Ruth, que quer a todo o custo obter o contrato milionário. Um dado curioso desta história fictícia é a presença de uma personagem “real”, Theodore “Teddy” Yip (1907-2003). De nacionalidade holandesa (filho de pais chineses, nasceu na Indonésia quando esta era uma colónia da Holanda) foi negociante em Hong Kong a partir dos anos 40. Em 1962 formou com Stanley Ho, Yip Hon e Henry Fok, a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (S.T.D.M.) Entusiasta das corridas participou no GPM como piloto logo em 1956. Em 1963 terminou em terceiro com um Jaguar E-Type, no ano que Arsenio Laurel ganhou pela segunda vez em Macau. Na década de 1970 criou a «Theodore Racing Team» , equipa que participou em diversos campeonatos automobilísticos: Indi, Formula 5000, Can Am e Fórmula 2. Ainda tentou entrar na Fórmula 1 em 1978 mas sem sucesso, tendo apenas participado numa corrida. Patrocinou a ida de vários corredores a Macau, entre eles, Ayrton Senna que em 1983 venceu o 1º Grande Prémio de Macau em Fórmula 3.
A notoriedade desta colecção de banda desenhada serviu, mais uma vez, para projectar a nível mundial, o GPM. A primeira edição de Michel Vaillant foi o álbum “Le grand défi” em 1959 e a colecção durou até 2007 com um total de 70 volumes. Já este ano foi editado “Collapsus”.
Michel Vaillant, nome incontornável da história da banda desenhada com cerca de 20 milhões de álbuns vendidos, já teve direito a um filme (2003) e uma série de televisão (1967). Em 2012 os estúdios Graton ‘voltaram’ ao Circuito da Guia a propósito de uma série de Banda Desenhada. Trata-se de álbuns biográficos de personagens reais do desporto automóvel. Neste caso foi escolhido Michael Schumacher, piloto que deu nas vistas em Macau, em 1990, antes de ‘subir’ à Fórmula 1.
A prova de Fórmula 3 desse ano em Macau ficaria marcada pelo duelo entre dois futuros campeões da F1: Mika Hakkinen, finlandês, tinha acabado de conquistar a F3 britânica e Michael Schumacher, alemão, campeão de F3 no seu país. Na primeira corrida (primeira manga) venceu o finlandês e por isso, Hakkinen precisava de apenas um segundo lugar para garantir a vitória no final da prova. Na segunda manga os dois andaram na frente e na última volta, um choque entre os dois, na recta, entre a curva do hotel Mandarim e a curva do hotel Lisboa, acabaria por ditar a vitória de Shummy. O acidente deu muito que falar mas no final os dois pilotos acabariam na fórmula 1. Hakkinen foi para a Lotus e Schummacher passou a correr na Jordan.
PS: As edições em português do álbum “Rendez-Vous a Macao/Encontro em Macau” BD são de 1984 (Meribérica/Liber) e 2005 (Autosport). A primeira edição do Jornal da BD saiu a 15 de Abril de 1982, fruto de uma parceira a Líber e o Expresso (Sojornal). O último número (264) foi publicado a 20 de Agosto de 1987. Começou por ter especial enfoque os autores franco-belgas mas serviria também para dar a conhecer vários autores portugueses junto do grande público.
Artigo da autoria de João Botas publicado no JTM (suplemento GPM) de 17.11.2015

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Era uma vez em 1954


Revista ACP - Dez. 1954: o artigo da revista e algumas das imagens ali publicadas. 
Agradecimentos: Centro de Documentação do ACP - Portugal
Fernando Macedo Pinto
No início da década de 1950 Macau tinha cerca de 200 mil habitantes e circulavam nas ruas cerca de 600 viaturas motorizadas (ligeiros, pesados e motos). Entre a população mais jovem havia muito interesse pelo desporto motorizado. A 18 de Outubro de 1953, por exemplo, teve lugar no Campo Desportivo 28 de Maio (Canídromo), um festival desportivo promovido pelo Benfica e Sporting locais, com o patrocínio de Laurinda Marques Esparteiro, mulher do Governador. As receitas obtidas com a venda de bilhetes reverteram a favor do fundo do “Natal dos Pobres de Macau”. O evento consistiu em provas de ciclismo e uma gincana de automóveis, dentro do campo, e segundo a imprensa da época, “realizada por um grupo dos melhores automobilistas da terra. Ganhou o concurso o par formado pelo Dr. Adelino Barbosa da Conceição e Maria Leopoldina Pinto Ribeiro que fez o percurso com o tempo final (já acrescido de duas faltas) de 7 m. 25s. e 4/10 ; e em 2.º e 3.º lugares classificaram-se respectivamente o Dr. António Nolasco da Silva e sua esposa com o tempo final de 7m. 56s. e 2/10, e o Capitão Júlio Augusto da Cruz e sua esposa com 9m. e 7s.. Coube ao Sr. José Alves e sua parceira Maria Helena Neves da Silva, o prémio de consolação. ”
É curioso notar que neste lote de nomes está António Nolasco, ilustre advogado, e um dos ‘fundadores’ do GPM, juntamente com Carlos Humberto da Silva, Fernando de Macedo Pinto, João Pires Antas, Júlio Augusto da Cruz e Paul Eric du Toit.
Foram eles que nos primeiros meses de 1954 tiveram a ideia de organizar uma gincana por várias zonas da cidade. Na sequência de uma visita a Macau de um suíço radicado em Hong Kong, para dar um parecer técnico sobre o percurso da gincana, depressa se concluiu estarem reunidas as condições para se realizar algo mais grandioso… um grande prémio! E assim foi. Entre os múltiplos contactos que tiveram de efectuar surgiu um com o Automóvel Clube de Portugal (ACP), uma instituição criada em Portugal em 1903 e com pergaminhos na organização de provas desportivas motorizadas.
Os fundadores
Antes do último fim-de-semana de Outubro de 1954, data do primeiro GPM (dias 30 e 31), foi preciso um trabalho árduo por parte de quem teve a ideia, e depois, da Comissão Organizadora da prova.
Eduardo de Carvalho
“Uma tarde, em conversa no café, lembrámo-nos de organizar uma gincana, mas uma gincana com foros de coisa invulgar. O Carlos Silva recordou-se, então, de escrever para Hong-Kong, para o clube de automóveis local pedindo informações sobre a forma de organizar a prova, que não queríamos circunscrita a um local fechado, que, na nossa ideia, devia envolver toda a cidade”. As palavras são de Fernando Macedo Pinto, um dos fundadores da prova.
A conversa teve lugar no café do hotel Riviera – “o centro das reuniões de Macau”, segundo a publicidade da época – e quem responde à carta, enviada em meados de Maio é Paul Du Toit, um suíço radicado em Hong Kong. Du Toi, em vez de escrever, apanhou o ferry e foi até Macau. “Fomos recebê-lo e ele, indivíduo de um dinamismo fantástico, foi directo ao assunto e perguntou-nos o que queríamos fazer“, recordaria Macedo Pinto anos mais tarde, acrescentando que Du Toit concluiu: “Isto não é uma gincana. O que vocês têm é o circuito para um Grande Prémio!”. E assim foi…
A 17 de Julho de 1954 era anunciado publicamente numa conferência de imprensa que teve lugar no hotel Riviera o programa de uma corrida de quatro horas (Grande Prémio) e uma prova de regularidade-velocidade. Ainda sem data definitiva marcada – avançava-se apenas com o mês de Outubro – havia no entanto uma ideia muito clara do percurso das provas: partida do Porto Exterior frente à ponte 2 da Capitania dos Portos em direcção à Estrada de S. Francisco, Estrada dos Parses, Cacilhas, Ramal dos Mouros. D. Maria, Rua dos Pescadores e acabando na Av. Dr. Oliveira Salazar – o que é hoje a Av. da Amizade – num total de 3.9 milhas (6.27 Km).
Neste evento estiveram presentes, Carlos Humberto da Silva, Capitão Júlio Augusto da Cruz, Capitão-Tenente Manuel Pires Antes, Agente técnico Fernando Macedo Pinto e o Dr. António Nolasco da Silva. Foram estes cinco homens os responsáveis pela criação em Macau de uma delegação do ACP.
No dia seguinte, o jornal O Clarim noticiava: “Sob a superior orientação de Sua Exa. o Governador da Província, vai funcionar em Macau, uma delegação do Automóvel Club de Portugal”. Carlos Humberto da Silva será nomeado como primeiro delegado, uma função que ao longo dos anos também foi desempenhada por António Nolasco da Silva.
Ainda de acordo com O Clarim para esta iniciativa contribuiu de forma decisiva o Governador Joaquim Marques Esparteiro que “prometeu todo o apoio e prontificou-se a dar à delegação a sua superior e competente orientação, por forma a poder contar-se, no futuro, com um organismo fundado em bases sólidas e de grandes benefícios para a Província, tanto do ponto de vista turístico e desportivo, como sob o aspecto económico”.
Estava dado o passo decisivo para o arranque da comissão organizadora do Grande Prémio de Macau que ficaria a cargo da delegação local do ACP. Na edição de 25 de Julho de 1954 O Clarim noticiava as datas definitivas a realização da prova: no sábado, 30 de Outubro, às 13 horas (treinos de hora e meia às 8 da manhã), a prova de regularidade e velocidade, e no dia seguinte, o Grande Prémio.
Os preparativos
Definido o programa da prova, a 15 de Agosto de 1954, a imprensa local dava conta da abertura das inscrições para uma prova que seria regida pelo Código Internacional da Federação Internacional do Automóvel e pelo regulamento definido pela organização.
“Encontra-se aberta a inscrição para as provas de automobilismo organizadas pela Delegação de Macau do Automóvel Clube de Portugal. a qual encerrar-se-á no próximo dia 1 de Setembro.
As provas que vão ser levadas a efeito são o Grande Prémio de Macau e a Prova de regularidade, estando já inscritos no Grande Prémio duas dezenas de automobilistas de Hong Kong, entre os quais duas senhoras. Até à presente data, Macau conta apenas com um inscrito no Grande Prémio, Fernando Macedo Pinto.
Na prova de regularidade e velocidade à qual poderão concorrer quaisquer condutores de automóveis, com carros de turismo, espera-se grande concorrência dado o elevado número de entusiastas que existe entre nós.
A inscrição para o Grande Prémio é grátis, até à data de encerramento, sendo de $20,00 a inscrição para a Prova de regularidade e velocidade. Findo o prazo estipulado, haverá um novo período de inscrição, durante o qual cada inscrito pagará, para o Grande Prémio $50,00 e para a segunda prova $30,00.”
No dia 15 de Setembro de 1954 dava-se a conhecer o resultado das inscrições.“Encerradas as inscrições para o Grande Prémio de Macau e prova de regularidade-velocidades, verificou-se estarem inscritos 25 concorrentes para primeiro e 24 para a última. No Grande Prémio, há só três concorrentes de Macau, sendo os restantes de Hong Kong; na prova de regularidade-velocidade, 14 concorrentes são de Macau. Estas provas terão lugar nos dias 30 e 31 de Outubro próximo. No passado dia 9, o Sr. Carlos Humberto da Silva, um dos organizadores das provas de automobilismo, proferiu, na reunião-jantar do Rotary Clube de Macau, uma interessante palestra sobre o «Grande Prémio de Macau»”.
No final de Setembro de 1954 começam-se a sentir os primeiros efeitos de um evento que iria transformar por completo a pacatez da vida na cidade. Os poucos hotéis, pensões e pousadas que existiam (Bela Vista, Riviera, Central, Grand Hotel, etc…) depressa ficaram com a lotação esgotada a ponto de terem sido publicados anúncios nos jornais a solicitar aos particulares que se mostrassem disponíveis para arrendar quartos para os dias da prova.
Regulamentos e bancadas
No início de Outubro a organização dava a conhecer os regulamentos da prova de regularidade e velocidade e do Grande Prémio propriamente dito. Nesta podia participar qualquer “carro de turismo de fabrico corrente ou qualquer carro de desporto com ou sem modificações introduzidas” quer fosse pela fábrica quer fosse por outrem, com o objectivo de melhorar o desempenho. Aos condutores (podiam ser dois pilotos por carro) era informado que só poderiam utilizar gasolina de 85/90 octanas e não podiam ter qualquer auxílio de estranhos, sob pena de serem desclassificados.
Os regulamentos abrangiam ainda os espectadores que estavam proibidos de atravessar a pista do circuito durante o período dos treinos e das corridas. Para assegurar o acesso ao interior do perímetro do circuito havia apenas uma entrada. Ficava junto à Calçada de S. Francisco local onde estavam localizadas as bilheteiras (embora existissem outros locais onde podiam ser adquiridos bilhetes). Nessa zona existia uma ponte superior para os peões acederem ao circuito – através da Av. Dr. Rodrigo Rodrigues – sem atravessar a estrada. Este tipo de pontes estavam ainda junto ao Ramal dos Mouros e na recta da meta (designada por Posto Central), neste caso para uso exclusivo dos comissários, director da corrida e jornalistas.
Embora em muitas zonas do circuito não abundassem equipamentos que permitissem a melhor salvaguarda de pilotos e espectadores (eram outros tempos…) as questões de segurança e socorro não foram descuradas pela organização. Ao longo do circuito foram instalados quatro postos de ambulância, dez postos sinaleiros, nove postos de remoções, quatro postos de socorro a incêndios e treze postos de telecomunicações com ligação directa ao posto central na recta da meta. Nessa zona foram reservados lugares para os órgãos de comunicação social devidamente credenciados e foi ainda montado um posto de locução que informava o público sobre o andamento das corridas. Neste local de maior azáfama em todo o circuito estava ainda instalado um grande quadro onde era escrita a classificação das corridas.
Para proporcionar as melhores vistas sobre o circuito aos espectadores foram montadas quatro bancadas com capacidade para albergar duas mil pessoas.
Para além das bilheteiras existentes junto ao circuito, os bilhetes começaram a ser vendidos no dia 25 de Outubro no Hotel Riviera (cruzamento do BNU), na Pousada Macau (no nº 1 da Travessa do Padre Narciso, ao lado do Palácio do Governo) e na Firma H. Nolasco & Ca., na rua da Praia Grande.
Os preços variavam entre as 7,50 patacas para a bancada central e as cinco patacas para a bancada lateral. Fora das bancadas havia lugares para peões a 50 avos por pessoa.
Havia ainda a particularidade dos preços praticados pelo Clube Náutico por este se situar numa zona privilegiada do circuito (na zona da recta da meta). Aqui, por acordo com a comissão da prova, as cadeiras custavam 2,5 patacas cada uma, dando também acesso a uma mesa. Sem mesa, o bilhete ficava por uma pataca e meia.
“Entusiasticamente disputado”
Com tudo pronto para a primeira edição do Grande Prémio de Macau, no dia 28 de Outubro de 1954 chegaram a Macau provenientes de Hong Kong os primeiros cinco carros que iriam participar nas corridas. No dia seguinte chegariam os restantes e com os que já estavam em Macau conseguia-se um total de 25 viaturas.
Vicissitudes várias, incluindo alguns despistes em treinos (todos os pilotos tinham de completar pelo menos uma volta ao circuito durante os treinos), fizeram com que apenas 15 alinhassem na grelha de partida onde o Governador envergou a bandeira portuguesa ordenando a partida. A largada foi feita ao género de “Le Mans”, ou seja, com os carros ordenados por categoria, virados para o mar e com os pilotos fora das viaturas.
“Ao sinal de largar, correram todos para os carros, uns saltando para dentro destes, outros, abrindo rapidamente a portinhola ao mesmo tempo que punham o motor a funcionar”. O relato foi feito pelo jornalista de O Clarim na edição de 4 de Novembro e o piloto mais rápido na partida foi Gordon “Dinga” Bell que viria a estabelecer a volta mais rápida desse ano com 4 minutos e 12 segundos tripulando um Morgan.
Ao fim de 51 voltas ao Circuito da Guia (cada volta tinha 6,2 km) num total de quase 320 quilómetros, em 4 horas, 3 minutos e mais alguns segundos, foi exibida a bandeira de xadrez ao Triumph TR2, carro nº 5 de cor vermelha, conduzido pelo português Eduardo de Carvalho. Vencedor do primeiro GPM deu uma volta de consagração ao circuito onde foi aplaudido por milhares de pessoas recebendo depois das mãos do Governador a taça feita especialmente para o efeito em Lisboa. A “Omega”, empresa que fornecera os cronómetros para as corridas, ofereceu um relógio de mesa.
Chegavam assim ao fim dois dias plenos de emoção onde um carro se destacou na prova do GP ao arrebatar os três primeiros lugares, o Triumph TR2.
Na edição nº 31 do Boletim Informativo de Macau (1954) resumia-se o que de mais significativo se passou.
“A Delegação de Macau do Automóvel Clube de Portugal levou a efeito, nos dias 30 e 31 de Outubro de 1954, um certame de automobilismo, que reuniu dezenas de volantes nacionais e estrangeiros de Macau e Hong Kong e milhares de espectadores, muitos dos quais vindos, propositadamente, da vizinha colónia britânica. O programa (…) constou de duas provas distintas, ambas entusiasticamente disputadas e acompanhadas com muito interesse. No primeiro dia realizou-se uma prova de velocidade-regularidade, com o concurso de 20 automóveis, dos quais 9 de Macau. No dia seguinte, teve lugar o Grande Prémio de Macau, ao qual concorreram 15 volantes, dos quais um apenas de Macau. Três outros caros vindos de Hong Kong não puderam participar nesta prova devido a acidentes sofridos na véspera, durante os treinos…(…) Ambas as provas se realizaram no «Circuito da Guia» que mede, aproximadamente, 6,27 quilómetros, ou sejam 3,9 milhas…(…) Este circuito, que mereceu as mais elogiosas referências de todos os concorrentes, só se conseguiu após intenso trabalho de preparação, nele intervindo não só os organizadores como também o pessoal das Obras Públicas…(…)
Sua Ex.ª o Governador ofereceu a artística e linda taça destinada ao vencedor, a qual custou cerca de mil e duzentas patacas, tendo sido feita expressamente em Lisboa. Sua Ex.ma Esposa de Sua Ex.ª o Governador, Sr.ª Dr.ª D.ª Laurinda Marques Esparteiro, a convite da Comissão Organizadora, cortou a fita simbólica colocada para a inauguração do circuito, acto que foi sublinhado por uma salva de palmas. Seguidamente, a mesma Ex.ma Senhora declarou aberto o circuito.
Felizmente, e não obstante os justificados receios de todos, não houve desastres graves a lamentar, durante a realização das provas salvo pequenos acidentes de que resultaram apenas ligeiros ferimentos em alguns condutores, com algum dano material.
Ganhou brilhantemente o Grande Prémio, no qual se classificou vencedor absoluto, o hábil volante português Eduardo de Carvalho, que conduziu na prova um «Triumph TR2», de 1991 cm3. A prova de velocidade-regularidade foi ganha, também brilhantemente, pelo cabo da R.F.A. Robert Ritchie, que conduziu um «Fiat 1100».
Teve brilhante actuação o único concorrente de Macau, Fernando Macedo Pinto, que, num «MG Special» se classificou em 4.º lugar, revelando-se, em perícia e regularidade, tão bom como os melhores.”
Na edição de Nov./Dez. de 1954 (nºs 11 e 12 – Ano XXIV) a revista do ACP (Portugal) dava grande destaque ao evento rotulado de “enorme êxito” e intitulava “O I Grande Prémio de Macau foi entusiasticamente disputado perante mais de 20 mil pessoas”. Para além das referências ao empenho na organização do Sr. Carlos Humberto da Silva, “prestimoso delegado do ACP” o artigo evidenciava o facto de ter sido “a primeira corrida de velocidade pura realizada em Macau” e a primeira do género realizada “em toda a extensa costa da China”.
Ao lado das fotografias dos protagonistas do primeiro GPM – Fernando Macedo Pinto (4º), Reginaldo Rocha (3º), Paul du Toit (2º) e Eduardo de Carvalho (1º) – a reportagem classificava o Circuito da Guia como “cenário maravilhoso” e “extremamente difícil” o que explicava as médias atingidas de 80 km/hora. Acrescente-se a isso o facto de parte do percurso, entre a Casa Branca e o Ramal dos Mouros, ser em terra batida.
Numa das imagens que ilustram o artigo está o momento da entrega dos prémios, a 31 de Outubro de 1954, num jantar de gala no salão do Clube de Macau, a que presidiu o Governador Marques Esparteiro. Na ocasião, foi feita a entrega da taça do «Grande Prémio» a Eduardo de Carvalho pela mulher do Governador, Laurinda Marques Esparteiro.

Vencedores do GPM
Carros de desporto ou especiais
1º: Eduardo de Carvalho (Triumph TR2) com 51 voltas, 319,77 km, em 4 horas 3 minutos e 19,1 segundos.
2º: Paul du Toit, (Triumph TR 2), com 51 voltas em 4 h., 4m., 46 s., à velocidade média horária de 48,8 milhas, gastando mais 1 minuto e 27 segundos que o vencedor.
3º: Reginaldo da Rocha, (Triumph TR 2), com 50 voltas em 4 h. 1m. 55,5 segundos.
4º: Fernando Macedo Pinto, num MG Special de 1100 c.c., com 48 voltas em 4h. 3,4 segundos.
Carros de Turismo
Classe B (cilindrada entre 750 a 1100 cc.): Robert Ritchie em Fiat 1100, com 48 voltas, em 4h. 1m., 57,6 s.
Classe D (1501 a 2000 cc): D. N. Steane, num Hillman, com 46 voltas, em 4h. 1m. 29s.
Classe E (2001 a 3000 cc), K. O. Mak num Ford Zodiac, com 45 voltas em 4h. 01m. 56s.

Apesar da projecção mundial que o GPM tem hoje em dia, nos primeiros anos o evento que viria a mudar a faceta do território pouca relevância teve ao nível do tratamento noticioso, nomeadamente em Portugal. O “Diário de Lisboa” não escreveu nem uma linha nos dias que se seguiram à primeira edição em 1954. O desporto motorizado era um parente pobre face ao que estava na moda: o futebol, o hóquei em patins, o ciclismo e o ténis de mesa. Mas muito depressa tudo isto iria mudar e em 1955 (dias 5 e 6 de Novembro) as corridas estariam de volta ao Circuito da Guia. Tem sido assim, todos os anos, até hoje…
Artigo da autoria de João Botas publicado no JTM (suplemento GPM) de 16.11.2015

sábado, 14 de novembro de 2015

Pedido de uma leitora

Nasci em Macau e em breve vou lá (28 Novembro a 3 de Dez). Gostava imenso de encontrar uma senhora que ajudou os meus pais a criarem-me até aos 3 anos. O que peço é se me podem ajudar nesta minha procura uma vez que só tenho o nome próprio e algumas fotos da altura 1954-1957. 
Chama-se A-Kit e penso que terá perto de 80 anos. O meu pai é militar (Jaime Oliveira Leite) e a minha mãe (Mª Arcelina Leite) deu aulas no Jardim Infantil e na Escola Central primária! 
Envio em anexo algumas fotos dela. Numa ela está comigo, noutra num casamento de amigos dela a que me levou e noutras duas está também a minha irmã (Manuela) com a A-Fun. Agradeço desde já qualquer informação - macauantigo@gmail.com
Ana Leite Salvado
Não é a primeira vez que recebo este tipo de pedidos e, tal como noutras ocasiões, faço votos para que com a divulgação no blogue Macau Antigo a Ana Salvado consiga encontrar as respostas que procura. JB

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

150.º aniversário do nascimento de Sun Yat-sen em 2016

A China anunciou que em 2016 celebrará o 150.º aniversário do nascimento de Sun Yat-sen (1866-1925), pai da revolução que em 1911 implantou terminou com o período dinástico e implantou a República e com fortes ligações a Macau. Sun seria ainda o  fundador do Partido Nacionalista Kuomintang (KTM), que após a guerra civil chinesa se refugiou na ilha de Taiwan.
As celebrações anunciadas pelo governo chinês vão-se concentrar, sobretudo, no dia 12 de Novembro de 2016, em homenagem a um "grande patriota, herói nacional e líder da revolução democrática", escreveu a Xinhua, agência noticiosa oficial chinesa.
O anúncio surge após um histórico encontro, no sábado passado, entre os líderes do Partido Comunista chinês (PCC)e do KMT, os presidentes da China e Taiwan, Xi Jinping e Ma Ying-Jeou, respectivamente.
Do ponto de vista da diplomacia internacional, existe a República Popular da China, governada pelo PCC, e a República da China, dirigida pelos nacionalistas, mas ambos os lados rejeitam uma divisão definitiva.
Apesar da divisão, que dura desde 1949, a figura de Sun Yat-sen, o "pai" da China moderna, foi sempre admirada no continente chinês, visto que a hostilidade contra o PCC foi iniciada pelo seu sucessor, o general Chiang Kai-shek.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

35º GPM: emissão filatélica especial

Envelope comemorativo do 35º GPM realizado em Novembro de 1988. Inclui selos e carimbo da mesma série. Neste caso trata-se de uma carta registada enviada para Lisboa a 24.11.1988 tendo a senha do Registo 364 feito na Estação Central.
 Carimbo
Série completa de selos nos valores de 0.80, 2.80 e 7.00 patacas

domingo, 8 de novembro de 2015

O Lotus 15 do Grande Prémio de 1961



Peter Heath, num Lotus 15, foi o grande vencedor do oitavo Grande Prémio de Macau, disputado a 18 de Novembro de 1961 (domingo). 26 segundos depois, cortou a meta Bill Baxter num Jaguar E-Type, enquanto Heinz Gosslar, em Porsche Carrera, terminou em terceiro, com uma volta de atraso.
O britânico Peter Heath conseguiu que o seu Lotus 15 Climax resistisse 60 voltas e quase três horas e meia para vencer o Grande Prémio.
Nesta edição da revista Historic Motor Racing recorda-se a história desse carro.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Circuito da Guia

Alguns pilotos classificam-o como "o melhor circuito do mundo". O nome provém do Monte da Guia, o ponto mais elevado do território. O traçado, citadino, praticamente não sofreu alterações desde a primeira prova em 1954 e tem uma extensão de cerca de 6 km.

Ao todo tem 19 curvas, sendo as principais as do Hotel Lisboa e a Melco, a mais estreita delas. A Curva do Hotel Lisboa é uma curva de 90º no final da recta dos boxes (Av. da Amizade). É habitual ocorrerem aqui acidentes, principalmente na primeira volta de cada prova. A Curva de São Francisco é feita a subir e é mais 'aberta' que a do Hotel Lisboa. 
do livro de BD Rendez-vous a Macao, de 1983
Seguem-se as Curvas da Maternidade, os "esses" da Solidão e Dona Maria e depois... A Curva Melco, a mais estreita do circuito, e também conhecida por "Loews de Macau" (referência ao circuito do Mónaco) tendo apenas sete metros de largura.
Já depois de descer segue-se a Recta dos Pescadores que antecede a curva R e, consequentemente, a recta dos boxes. 
A Curva R é última curva do circuito. A chamada Recta dos boxes é a recta principal do circuito, que na verdade é uma sequência de três retas, separadas pelas curvas R, Hotel Mandarim e Hotel Lisboa. Também é o troço  mais largo da pista, chegando a 14 metros na segunda recta.
 Medalha alusiva aos 25 anos da prova (1954-1978). Emissão do ACP (Portugal).

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Década 1950: imagens

A propósito do último post, resolvi propor-vos uma viagem a Macau da década de 1950, quando teve início o Grande Prémio...

domingo, 1 de novembro de 2015

Grande Prémio de Macau - 澳門格蘭披治大賽車- Macau Grand Prix


Este mês acontece em Macau mais uma edição do Grande Prémio, prova de desporto motorizado iniciada em 1954.
"É a primeira e a última corrida que vamos organizar porque nunca mais nos vão autorizar uma prova deste género", disse Fernando Macedo Pinto a Carlos Silva, numa conversa entre dois dos fundadores do Grande Prémio de Macau em 1954. O objectivo passava por fazer uma caça ao tesouro mas depressa se alterou o plano inicial para "uma corrida a sério". Macedo Pinto achava que seria uma edição única, destinada ao fracasso, mas a história acabaria por ser outra. "Enganei-me, enganei-me redondamente quando disse aquilo, mas tenho a certeza que, se não fosse o apoio de Hong Kong, o Grande Prémio de Macau nunca teria sido o sucesso que é hoje", afirmou o já falecido fundador do GP no 50º aniversário do evento.
Postal: Foto de K. H. Tam. Impresso por Wing Tak Printing Co.
"November is the one time of the year when Macau's tranquility is shattered with the roar of Grand Prix racing cars exhausts". Estes são os dados inscritos no verso deste postal cuja imagem parece ser a do Troféu ACP da edição do Grande Prémio de 1969.