sábado, 31 de agosto de 2013

Eusébio


Eusébio com o Benfica em Macau no início da década de 1970. Mais um de vários post's sobre o tema. Em cima, Eusébio com Francisco Manhão numa foto publicada na revista Macau.
Com Rui Ribas em 1982

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Os Nguyen Macau e Portugal

Aspectos políticos e comerciais de uma relação privilegiada no Mar da China, 1773-1802

Autor: Pierre-Yves Manguin Edição: Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses / Fundação Macau, 1999

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Vapor "Crisa": 1945

Este foi o nome dado a uma antiga embarcação adquirida pelo governo de Macau a Hong Kong pouco antes de sucumbir ao domínio japonês em Dezembro de 1941. No final da guerra, em 1945, o governo de Macau custeou as obras de restauro e colocou o navio a funcionar para que os milhares de refugiados pudessem iniciar a viagem de regresso às suas casas. O vapor "Crisa" partia do Cais nº 7 do Porto Interior onde eram vendidos os bilhetes. Na imagem um anúncio publicado num jornal da época.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Governador na Taipa: anos 70

Governador Nobre de Carvalho (1966-74) na ilha da Taipa (Escola D. João Paulino ao fundo), acompanhado pelo presidente da Câmara das Ilhas Gastão de Barros. Destaque ainda para Mendes Liz, o ajudante de campo do governador.
 Na década de 1960 Gastão de Barros enquanto administrador da ilha da Taipa

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Marcas da presença portuguesa em Macau

No labirinto da cidade há inequívocos sinais de uma presença secular portuguesa. Uns mais óbvios que outros mas todos remetendo para uma memória longínqua. É nessa cidade invisível, constituída por pistas, monumentos, sons, odores: fragmentos e lembranças, que se procura o rasto de um caudal que correu por muitos anos e que foi deixando despojos, sinais, tradições, marcas de uma cultura.
Por vezes, é na curva de uma estrada que se encontram essas marcas, ou na tabuleta de uma rua, na confecção de um prato e na expressão de uma pessoa. Há os símbolos gravados na pedra ou cerzidos num pano, referências de um poder político e administrativo que foi semeando os seus sinais. No ano em que Macau regressa à soberania chinesa, enumerar os sinais da presença portuguesa pode parecer um gesto nostálgico. Mas não trata-se tão só de ganhar distância.
Sinopse do livro editado em 1999 pela Livros do Oriente. Textos de Luis andrade de Sá e fotografias de António Falcão.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Macau visto por Michael Teague

Na Biblioteca de Arte da FCG existe uma colecção de 100 fotografias a preto e branco que constituíram a exposição "Na rota dos Navegadores Portugueses", organizada pela fundação Calouste Gulbenkian como resultado do trabalho do fotógrafo Michael Teague. Entre elas várias de Macau tiradas na segunda metade da década de 1980.
Michael Teague (1932-1999), fotógrafo e jornalista inglês, percorreu as rotas dos navegadores portugueses, registando imagens do legado português, as marcas da presença portuguesa em África, na índia, no Extremo Oriente e no Brasil.
 Fortaleza do Monte

sábado, 24 de agosto de 2013

Filme português: 1960

A 14 de Janeiro de 1960 no Teatro Vitória estreava o filme português "A luz vem do alto".
Na imagem o folheto que assinalava o momento raro no território, a estreia de um filme português, a 14 de Janeiro de 1960. Estas sessões não incluiam apenas o filme. No caso, passavam antes as notícias “News of the day”, o documentário "Sentinelas do Mar" (Sea Sentries) e proporcionavam ainda uma 'viagem' aos estúdios da Tobis Portuguesa. No verso do folheto podia ler-se a sinopse do filme.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Centro Luterano: década 1960

Escola S. José no fim da então denominada av. Salazar (hoje Av. Mário Soares) no cruzamento com a rua Pedro José Lobo. Ao fundo (lado esq.) pode ver-se parte do Edifício das Repartições/Tribunal.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Campeonato de Ténis: 1968

1968 "Campeonato de ténis para juniores, organizado pelo Exmo. Senhor Director do Ténis Civil, Dr. António Nolasco da Silva, com a colaboração da Mocidade Portuguesa. Este campeonato decorreu em dois dias. Estiveram presentes às finais alguns sócios do ténis civil, destacando-se o Exmo. Senhor Secretário Geral. Depois da distribuição dos prémios foi apresentado ao público, oficialmente, pela primeira vez o grupo de danças regionais da Mocidade Portuguesa Feminina e Mocidade Portuguesa Masculina."
Notícia do jornal "O Clarim" pelo Padre Mendes.


Foto e legenda de Misabel Machado Fonseca.
Da esquerda para a direita:Duarte Ribeiro, Pedro Ribeiro, Luis Machado, Manuel Mesquita Borges. Em pé meninas: Laurinda Guilherme, IsabeL Machado, Beatriz Valoma, Isabel C.Ribeiro. Ultima fila: Anibal Mesquita Borges, José Santos Ferreira, Avô, Manuel Ferraz, José Manuel Silva, Andrew Lew, Ung Seng Ping, Silvin Wei e José Manuel Rodrigues




quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Conservadores e liberais na toponímia

 Forte D. Maria
Sendo uma colónia portuguesa, ainda que a mais longínqua e mais esquecida do “Império”, Macau, como todas as outras não podia deixar de reflectir na sua toponímia as alterações do processo histórico da Metrópole. É por isso que as conturbações revolucionárias portuguesas, com maior ou menor atraso, não deixaram de se reflectir localmente. Sendo assim compreende-se inteiramente que D. João IV, o rei restaurador de Portugal tenha ficado perpetuado numa avenida, já que foi quem concedeu a Macau o título de lealdade que figurou no Senado da Câmara como divisa até 20 de Dezembro de 1999.
Forte D. Maria
Após a restauração de 1640, a primeira crise revolucionária portuguesa a afectar seriamente Macau foi a revolta liberal de 1820. Os ecos desta revolução fizeram-se sentir localmente dois anos depois com a aclamação de D. João VI primeiro e subsequentemente com a adopção dos princípios radicais dos revolucionários liberais do Porto que levaram a população macaense a destituir a vereação absolutista do Leal Senado elegendo em sua substituição representantes sintonizados com o novo espírito iluminista reinante na Metrópole na França e na América.
Consumado o golpe de estado local, as novas autoridades investidas pelos cidadãos eleitores prenderam o Ouvidor Miguel de Arriaga Brun da Silveira (magistrado cujos poderes extravasavam o âmbito dos tribunais, possuindo as competências de um secretário geral do governo e juntamente com este o governador nomeado pelo poder absolutista, José Gerónimo de Castro Cabral e Albuquerque, acabando deste modo com todos os símbolos do antigo regime e libertando a cidade do poder tutelar do vice rei de Goa que se entrepunha entre Macau e sua Alteza Real.
Consumado o golpe, Macau, durante um ano singrou independente do intermediário poder de Goa e também à revelia de Lisboa, onde a situação política se alterava de um modo demasiado rápido para que o correio marítimo, que então demorava quase meio ano a chegar fornece-se atempadamente conta das mudanças que se processavam na capital do Reino.
Foi assim que a ascensão de D. Miguel e o início da guerra civil ocorreram sem que os liberais macaenses se apercebessem das mudanças. A monarquia parlamentar era proclamada. Em seguida, D. Miguel reinstalava o poder absoluto, para logo Saldanha determinar pela força das armas o constitucionalismo radical, numa sucessão demasiado rápida para que Macau se apercebesse de que afinal a constituição de 1820 tinha sido Sol de pouca dura. O território soube-o apenas quando as tropas realistas comandadas por Garcês Palha (que mais tarde governaria a colónia) desembarcaram no cais da Fortaleza do Bom Parto. Rapidamente conquistaram os fortes, prenderam a vereação municipal que governava a cidade, repondo o Ouvidor. Queimaram a Abelha da China, semanário oficial do governo liberal proclamando D.Miguel como rei “legítimo” e reinstaurando a obediência ao Vice-Rei de Goa. De todo este transe, a história registou importantes páginas, destacando nomes de um e de outro campo, mas a toponímia (severo filtro) apenas conservou o nome do Ouvidor Arriaga, como único merecedor de se destacar do olvido. 
Quanto ao campo liberal quase nenhum nome ficou recordado. Apenas o cirurgião José de Almeida que escapou a tempo da reviravolta miguelista figura hoje na toponímia, ainda que não de Macau, mas de Singapura dando nome à “D`Almeida Street”.
O presidente liberal do Senado, Paulino Barbosa, ou o redactor da Abelha da China, Frei António de S. Gonçalo de Amarante não mereceram ser recordados. No campo oposto, o antigo governador Castro e Albuquerque, bem como o bispo Chacim (que viria a governar interinamente a colónia) foram também, obliterados, como se o juízo da história pretendesse manter equilibrados os pratos da balança política dos mortais, não ajuizando entre liberais e absolutistas.
De toda a convulsão macaense dos tempos do liberalismo salvou-se apenas o Ouvidor Arriaga, figura intrigante sobre a qual ainda hoje não é possível estabelecer com segurança se era realista ou liberal, conservador, ou progressista, magistrado impoluto, ou funcionário venal, embora se projecte indubitavelmente acima da discussão como figura ímpar da história local. Seja qual for o juízo que sobre ele se faça, ou, o veredicto que a investigação histórica venha a brandir, Arriaga foi um súbdito obediente de D. Maria II, soberana que se manteve acima das confusões históricas (como aliás competia a uma rainha). E se os condicionalismos políticos a não equipararam à dignidade de avenida, como o seu tetra-avô D. João IV, esta conquistou direito a uma rampa (ainda que sumida por detrás do bairro dos correios) e a um fortim, em granito de lei, ainda que hoje, longe de servir para a defesa contenha apenas os equipamentos radio-eléctricos que mantiveram Macau em comunicação com o mundo, albergando o Museu dos Correios e Telecomunicações. Bom destino.
Artigo da autoria de João Guedes, Jornalista e Investigador, publicado no JTM de 7-6-2011

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Tufão: 20 Agosto de 1927

Nesta época os tufões ainda não tinham nome (será só depois da 2ª Guerra Mundial). O jornal "O Século" dedica um artigo (no dia 23) à passagem deste tufão por Macau tendo causado estragos consideráveis em vários edifícios, entre os quais o Palácio do Governador. O artigo refere ainda a ocorrência de algumas mortes. Título do artigo "Um violento tufão caiu sobre Macau".
Foi até então o terceiro mais violento a atingir Macau. O capitão do Porto, Almeida Pinheiro, publicou um relatório sobre o mesmo no Suplemento nº 44 do Boletim Oficial de Macau de 31-10-1927. Nesse documento fica-se a saber, por exemplo, que a amarra que segurava o cruzador "República" à bóia se partiu. O navio chegou a adornar e esteve em risco de afundar.
No jornal "A Pátria" publicado em Macau a 23 de Agosto de 1927 pode ler-se que o "República" galgou o molhe do Porto Exterior e foi parar em frente a Santa Sancha a uns 100 metros apenas da terra. Nesse mesmo dia o cruzado partiu em direcção a Lourenço Marques. Era comandante o comodoro Ivens Ferraz.
Texto elaborado a partir de dados obtidos em "Marinheiros ilustres relacionados com Macau" de Mons. Manuel Teixeira, Centro de Estudos Marítimos, Macau, 1988 e "O cruzador "República" na China em 1925, 1926 e 1927 : subsídios para a história da guerra civil da China e dos conflitos com as potências". Lisboa : Imprensa da Armada, 1932, da autoria de Guilherme Ivens Ferraz
Informações adicionais em: http://macauantigo.blogspot.com/2009/04/tempestades-tropicais-tufoes.html

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Assalto ao 'Sai On': 19 de Agosto de 1943

Relatório de escuta da Emissora Nacional (em Portugal) reportando o incidente a 29 Agosto de 1943
19 Agosto 1943: São quase nove da noite. Após o toque de recolher nos quartéis começam a ouvir-se tiros em vários locais da cidade.
No quarto 410 do hotel Kuok Chai a quadrilha de Wong Kong Wit, a mais poderosa e perigosa de Macau, planeia assaltar o vapor Sai On, antigo barco de carreira atracado no porto frente ao hotel com a missão de acolher refugiados. Nesta noite colaboracionistas chineses contratados pelo exército japonês a cerca de 150 mil ienes militares por cabeça apoderam-se do ferry “S.S. Sai On” – carreira Macau-Hong Kong – atracado no Porto Interior. No ataque, para além de um guarda indiano, o polícia João António José (guarda nº 612 conhecido guarda-rede do Grupo Desportivo da Polícia) e o soldado nº 4326 José Fernandes, são mortos. José António Elias (soldado nº 4392 ao serviço da PSP) e Frederico Pedruco (guarda nº 119 da PSP) ficam feridos. Isto do lado das forças portuguesas. Do outro lado, registo de oito chineses mortos ao serviço dos japoneses.
“Quando o navio ia já em frente da Av. da República dispararam rajadas de metralhadora em direcção a Macau. O dr. Delegado, Aarão de Lacerda, que vivia na rua do Miradouro de Santa Sancha, foi à janela e uma bala espeta-se na parede,” diz Mons. Manuel Teixeira, adiantando que no barco não havia refugiados “apenas duas crianças gémeas inglesas, que nada sofreram e que foram logo reenviadas para Macau pelos japoneses.”
O barco foi levado para Hong Kong e sob o novo nome de “Tak Shing” e “Tung Shan” operou até Janeiro de 1974.
É um dos mais graves incidentes ocorridos em Macau durante a guerra e talvez o mais provocatório levado a cabo pelos japoneses. Os assaltantes ocupam o Hotel Kuok Chai – no que o “A Voz de Macau” classifica como manobra de diversão para “com mais segurança alcancarem o seu desígnio” – e dominam toda a zona do final da Av. Almeida Ribeiro no Porto Interior. Só a intervenção da PSP conseguiu pôr cobro à situação. Os agentes, Samari e Fernandes, foram mortos, bem como três dos atacantes. Nas notícias veiculadas pela agência Reuters a partir de Chungking, o tema é tratado de forma efusiva e bem diferente, referindo-se a presença a bordo de mais de uma centena de refugiados e a morte de 20 polícias portugueses: “Segundo informações recebidas aqui, os japoneses apresaram no dia 18 do corrente o antigo navio fluvial britânico Sian que estava ancorado na colónia portuguesa de Macau desde o início da guerra do Pacífico. Teriam sido mortos mais de 20 polícias e guardas portugueses quando tentavam resistir aos japoneses. As informações dizem que mais de 200 polícias japoneses, em trajo civil, e tropas ‘fantoches’ chinesas chegaram junto do Sian em duas traineiras e saltaram para bordo. Os japoneses montaram metralhadoras no cais e abateram quantro polícias portugueses que tentaram intervir. O quartel-general da polícia portuguesa enviou reforços, mas estes não conseguiram dominar os japoneses. Mais de 100 passageiros, incluindo chineses, portugueses e refugiados filipinos encontravam-se a bordo do Sian que transportava igualmente grande quantidade de mercadorias.”
Terá começado aqui uma espécie de protectorado virtual do Japão sobre Macau...

sábado, 17 de agosto de 2013

A greve de 1922 (2º post)

Felizmente não teve maiores consequências o incidente que se deu em Macau entre as tropas da nossa guarnição e a população chineza que enxameia na cidade. As primeiras notícias telegráficas, na sua concisão, deixavam antever acontecimentos graves. Originou esse incidente um das praças indígenas de Moçambique, ali em serviço ter na sua passagem, tropessado, sem querer, n´uma chineza que ia pela mão da mãe, levantando esta um berreiro injustificado.
Os chinezes, tomando o partido da mulher, amotinaram-se e lançaram-se ao soldado, defendendo-se este valentemente e levando um d´eles preso para a esquadra, mas, ao retirar-se d´ali, a canalha saltou em cima d´ele, deixando-o em estado tão lastimoso que teve de recolher à enfermaria do hospital. No dia seguinte declarou-se a greve geral e uma multidão enorme acumulou-se sussurrante e agitada na avenida Marginal, havendo cabecilhas que incitavam contra os portuguezes. Os manifestantes rodearam a esquadra, ocupando completamente as ruas próximas, formando barricadas e não deixando passar ninguém.
A força militar encontrava-se isolada e a gentalha ameaçava ruir sobre ela. O tenente sr. Rogério Ferreira resolveu sair d´aquela situação. Um dos amotinados lançou-se-lhe ao pescoço para o estrangular. O oficial puxou da espada, e com ela ainda feriu alguns, mas, por fim, arrancaram-lha das mãos. Não havia paciência que resistisse por mais tempo Da multidão partiram vários tiros de revolver e um soldado baqueou. Então a tropa deu uma descarga contra os manifestantes. Um bom número d´eles caiu varado de balas, ao passo que os restantes, que subiam a mais de 4.000, se puzeram em fuga, deixando na sangueira, que cobria o solo, sapatos, leques, lanternas, varapaus e bandeiras. Se não tomam esta resolução, eram todos varridos por uma metralhadora que pouco depois chegava ao local.
A deserção foi tão completa que nem se importaram com os mortos. Recolheram-nos, os nossos soldados, envolvendo-os em esteiras e removendo-os em «camions» para o cemitério. Vinte e tantos dos fugitivos haviam-se refugiados n´uma casa em ruínas. Foram lá descobertos empilhados sobre os outros. Quando se sentiram descobertos saíram e puzeram-se de joelhos deante das nossas tropas pedindo misericórdia. No esconderijo ficara só em estendido, porque esse estava morto. O governo chinez não julgou do seu direito o intervir.

Artigo publicado na revista Ilustração Portuguesa, nº 860 de 12 de Agosto de 1922 com o título "Os Tumultos de Macau". Na verdade, foram incidentes graves iniciados em Maio desse ano e que se prolongaram até 8 de Junho, embora o estado de sítio vigorasse até ao final desse mês. Mais de 60 associações profissionais foram encerradas. No artigo não se menciona mas registaram-se cerca de 30 mortes. As fotografias são da autoria de Barbosa Pires (chefe da Secção de Propaganda das Obras do Porto de Macau).
Sugestão de leitura adicional neste post com o relato dos acontecimentos por Jaime do Inso.
Na Cronologia da História de Macau da Prof. Beatriz Basto da Silva pode ler-se a 1 de Maio de 1922:
"As associações operárias de Macau promovem uma manifestação. Os ânimos opondo patrão e o operário estão exaltados e, como é comum nesta circunstâncias, as manifestações multiplicam-se. Um incidente entre um soldado moçambicano e uma prostituta chinesa, a 28 de Maio, desencadeia um tiroteio grave, que conduz a troca de explicações entre o Governo de Macau e a autoridade de Cantão, levando ao castigo de militares envolvidos bem como à retirada de Macau do contingente de forças africanas."
Nesta foto de 1915 é curioso notar que no topo da fachada do edifício da Santa Casa pode ver-se o busto do fundador: D. Belchior Carneiro

A 29 de Maio de 1922 é proclamado mais uma vez o estado de sítio em todo o território. Dá-se o cerco à esquadra de Ship-Seng e acontece uma resposta policial. São mandadas encerrar todas as associações de classes profissionais não autorizadas pelo governo. Muita da população chinesa abandona o território.
A 30 de Maio são convocados todos os cidadãos portugueses válidos a apresentarem-se no Quartel do Corpo de Voluntários (em Santa Clara), a fim de serem mobilizados para o serviço do Governo. Edital nº 2 do 2º suplemento ao Boletim Oficial nº 21. Só a firmeza da resposta do Governador, Comandante Corrêa da Silva – Paço d´Arcos às autoridades de Cantão evitou crise maior. A 5 de Junho a situação é considerada calma e normal. 
1922 ficará para a história do território como o "ano da greve". Na sequência destes eventos a 8 de Outubro desse ano chega a Macau o General Gomes da Costa, acompanhado  do seu filho Carlos Nunes Gomes da Costa, como Secretário, e o tenente Salgueiro Rego, seu ajudante de campo, para inspeccionar os serviços militares de Macau. Aliás, a inspecção será feita a todos os territórios do Oriente (vai tb a Shangai) e Gomes da Costa só regressará a Portugal em 1924. 
A 28 de Maio de 1926 dirige o golpe militar que instala a ditadura em Portugal.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

André Kim Taegon: 1821-1846

Quem passa no Jardim Luís de Camões depara-se com uma estátua de André Kim Taegon (1821-1846), um religioso católico coreano. Foi beatificado em 1925 e declarado santo em Maio de 1984 pelo papa João Paulo II quando visitou a Coreia. Nascido numa família nobre coreana, aos 15 anos converteu-se ao catolicismo e foi enviado pelos fiéis coreanos para Macau para estudar teologia. Durante os seus estudos no território frequentou como fiel a Igreja de Santo António.
Foi o primeiro sacerdote e missionário de etnia coreana. Decapitado em 1846 (tinha 25 anos) tornou-se assim o primeiro mártir coreano. A Diocese de Macau venerou-o (celebração a 20 de Setembro) com uma estátua situada junto à igreja que ele frequentou, a Igreja de Santo António.
A Igreja católica coreana foi fundada por leigos, o que é um caso raro. Surgiu no início de 1600, a partir dos contactos das delegações coreanas que visitavam Pequim. Foi assim que se deram os primeiros contactos dos coreanos com o cristianismo. Teve aqui um papel importante o livro do padre Mateus Ricci, "A verdadeira doutrina de Deus". Foi o leigo Lee Byeok que se inspirou nele para, então, fundar a primeira comunidade católica na Coreia.  As visitas à China continuaram e os cristãos coreanos foram, então, informados, pelo bispo de Pequim, de que suas actividades precisavam seguir a hierarquia e organização ditada pelo Vaticano, a Santa Sé de Roma. Teria de ser gerida por um sacerdote consagrado, o qual foi enviado oficialmente para lá em 1785. A comunidade cresceu e depressa começou a sofrer perseguições por parte dos governantes assistindo-se a uma carnificina entre 1785 e 1882, quando o governo decretou a liberdade religiosa. Foram dez mil mártires. Desses, a Igreja canonizou muitos que foram agrupados para uma só festa, liderados por André Kim Taegon, o primeiro sacerdote mártir coreano.
André nasceu em 1821, numa família da nobreza coreana, profundamente cristã. Seu pai, por causa das perseguições, tinha formado uma "Igreja particular" em sua casa. Tudo funcionou até ser denunciado e morto, aos 44 anos, por não renegar a fé em Cristo. André tinha 15 anos e sobreviveu com os familiares, graças à ajuda dos missionários franceses, que os enviaram para a China, onde se preparou para o sacerdócio e regressou diácono, em 1844. Foi em Xangai que o bispo o ordenou sacerdote. Devido à sua condição de nobre e conhecedor dos costumes e pensamento local, obteve óptimos resultados no seu apostolado de evangelização. Até que, a pedido do bispo, um missionário francês, seguiu em comitiva num barco clandestino para um encontro com as autoridades eclesiásticas de Pequim, que aguardavam documentos coreanos a serem enviados ao Vaticano. Foram descobertos e presos. André foi torturado durante muito tempo e depois morto por decapitação, no dia 16 de Setembro de 1846 em Seul, na Coreia. Na mesma ocasião, foram martirizados 103 homens, mulheres, velhos e crianças, sacerdotes e leigos, ricos e pobres.

PS: A estátua foi oferecida em 1985 à Diocese de Macau pela Igreja Católica da Coreia.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Revisitando o Boletim Oficial de Macau

O Boletim Oficial, ao longo da sua ininterrupta história secular e sob diversas designações, é um interessante, curioso e útil repositório da história de Macau e da história de Timor. Não só no aspecto institucional e jurídico, mas também no âmbito político, diplomático, informativo, científico ou comercial, já que a “parte não oficial” encerra valiosas informações. Junto ao cabeçalho mantinha-se uma directiva sibilina que convém recordar para a memória dos tempos: “Por ordem superior se faz saber, que quando se suscitem dúvidas sobre a inteligência das matérias publicadas nas duas línguas portuguesa e china, prevalece a versão portuguesa”.
Esquecido, quiçá desprezado, este jornal oficial ainda não foi devidamente compulsado em toda a sua extensão. Foi a primeira publicação regularmente bilingue e o mais consistente repositório da sinologia portuguesa de feição política e administrativa. Há subtilezas processuais e equilíbrios político-administrativos na acção dos diferentes governadores que só se detectam nas suas páginas.
Tem escapado, por exemplo, aos queirosianos e aos historiadores, a presença de Eça de Queiroz no Boletim da Província de Macau e Timor. Assim, na edição de 29 de Março de 1873, podemos encontrar o documento seguinte: “Don José Maria d’Eça de Queiroz, bacharel pela universidade de Coimbra, cônsul de Portugal no archipelago das Antilhas hespanholas por S.M. Fidelíssima que Deus guarde, etc. Certifico: a rogo de Francisco F. Ybañes do commercio d’esta praça, que no dia 10 do mez de janeiro chegou a este porto o vapor hespanhol Amboto, capitão Equidazo, procedente de Macau, 85 dias de navegação e 786 passageiros, colonos chinas para esta ilha, com os quaes foi destinado a fazer quarentena ao porto de Mariel, voltando a este de Havana no dia 10 do corrente com 780 passageiros. O capitão em virtude das disposições do governo de Macau deu notícia de sua chegada e á casa consignatária presentou uma lista dos contratos dos passageiros que fica munida as diligências praticadas por este consulado, resultando de ditas diligencias que os passageiros foram bem tratados e que o capitão cumpriu com eles tudo o que se acha prevenido nas disposições do governo de Macau tendo feito constar que os 6 que faltam para o completo numero dos 786 embarcados em Macau morreram na viagem de tysis e desynteria. E ficando satisfeito do bom trato dado aos ditos passageiros pelo capitão e mais tripulantes do dito navio, dou a presente para assim o fazer constar onde convier assignado por mim e selado com o sello d’este consulado geral da nação portugueza em Havana, aos 13 dias do mez de janeiro de mil oitocentos setenta e três. – (L.S.) – José Maria d’Eça de Queiroz”.
Tudo isto está ligado, como é bom de ver, ao tráfico e emigração de cules através do porto de Macau. Mas, há mais documentos assinados por Eça completamente esquecidos no Boletim da Província de Macau e Timor.
Folheando um pouco ao acaso, nota-se que o jornal oficial é um poço sem fundo. Para além da omnipresença do Ministério dos Negócios da Marinha e Ultramar, nas suas páginas encontramos as minuciosas estatísticas médico-sanitárias de Macau e Timor, as ocorrências policiais, os incontáveis termos de vassalagem dos régulos de Timor, o movimento dos navios, os discursos do Rei ou o instrutivo “Regulamento sobre o serviço da Metralhadora do systema Christophe et Montigny”, de 1875. Podemos conhecer, igualmente, o repertório diário tocado pela Banda de Música da Guarnição de Macau, as actas das eleições de deputados e das vereações do Leal Senado, apreciar a elegância literária dos relatórios do Dr. José Gomes da Silva, os folhetins de Pedro Gastão Mesnier, o anúncio da venda de livros pios, as listas com o nome dos alunos e as respectivas classificações obtidas, a venda de propriedades ou as sentenças dos tribunais militares e civis.
No dia 6 de Fevereiro de 1875, o Governador Lobo d’Ávila, na sessão solene de distribuição dos prémios aos alunos do ensino primário, que teve lugar no salão nobre do Leal Senado, disse, entre outras coisas que “se é modesta a profissão do magistério nas nossas províncias ultramarinas, nem por isso é ela menos respeitável e merecedora da consideração e do respeito público, a que dá incontestável direito a proveitosa e alta missão que desempenha na sociedade”. Estas palavras, guardadas no Boletim da Província de Macau e Timor, têm um significado simbólico, são as primeiras a valorizar a ética e o trabalho do professorado em Macau.
Nesse mesmo ano também foram publicados os estatutos do Colégio de Santa Rosa de Lima, cujo artigo 53º dizia o seguinte: “as aulas são públicas ; a elas pode assistir qualquer pessoa que tiver obtido da regente esta permissão, a qual sob nenhum pretexto pode ser negada, contanto que essa pessoa se apresente com a decência devida”.
Em Fevereiro de 1880 Macau recebe a visita de S.Exª. o Vice-Rei Liu-Kun-I e em Agosto desse mesmo ano, o reitor da Universidade de Coimbra, Visconde de Villa-Maior, agradece ao governador Joaquim José da Graça o envio do Boletim da Província de Macau e Timor e “mais peças oficiais relativas à muito interessante colecção de produtos e artefactos de proveniência vegetal (…) oferecidos à Universidade, para serem colocados no museu botânico da faculdade de filosofia”.
O regulamento da Procuratura dos Negócios Sínicos está publicado em 1882. O governador Eduardo Galhardo faz publicar a 10 de Agosto de 1898 o Regulamento das Casas de Toleradas de Macau.
A notícia , de 8 de Agosto de 1870, sobre o falecimento do médico Leocádio Justino da Costa é deveras comovedora. Natural de Macau e formado em medicina em Goa, “tornou-se querido e chamado por quasi Macau inteiro para acudir aos seus doentes e nessas ocasiões era tão prompto em acudir risonho e consolador tanto aos ricos como aos pobres como era feliz em acertar com a cura”. E como cidadão “ocupou com zelo e ilustração vários cargos importantes nesta sua terra e em todos se distinguiu sempre com esmero e aptidão”.
No dia 14 de Novembro de 1874, na parte não oficial, participa-se o falecimento de Miguel Pereira Simões, “secretário aposentado da Junta de Fazenda Pública de Macau” que “serviu com dedicação o seu paiz, viveu honradamente e morreu pobre”.
Por esta pequena amostra, toda relativa ao último quartel do século dezanove, se vislumbra a sua riqueza temática de feição histórico-sociológica e a sua importância estratégica para se compreender Macau.
1 de Abril de 1939
Ao “zelo patriótico” do funcionário que ao “apagar” o símbolo nacional do Boletim Oficial cuidava que apagava a História, ficamos a dever duas coisas. A primeira, uma chamada de atenção para o enorme valor documental do Boletim Oficial, quer para a história de Macau, quer para a história de Timor, sem esquecer que através dele podemos espreitar para o sentido ideológico da governação portuguesa. A segunda, tentar perceber por que motivos ainda não foi disponibilizada em formato digital a colecção integral do Boletim Oficial, de enorme serventia para a macaulogia em geral e garantindo a sua acessibilidade em qualquer parte do mundo. Não existem, como é sabido, muitas colecções completas em bibliotecas públicas, em bibliotecas escolares ou em bibliotecas particulares. Daí que este deva ser um objectivo absolutamente prioritário.
O Boletim Oficial atravessou a monarquia constitucional, a república, o estado novo, a democracia, escancarando-se em 1999 as portas para um novo futuro continental, cujos passos estão a ser dados. Merece, pois, uma visita.
Artigo da autoria de António Aresta publicado no JTM de 15-12-2011

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Tufão "Rose": 14 a 18 Agosto de 1971

"As primeiras medidas de segurança com vista ao lento aproximar do tufão Rose, foram tomadas cercas das 12 horas, de 2a. feira, descendo o sinal 3, para dar lugar a outra de prevenção mais rigorosa, o número 8. Entretanto comentava-se que o 'Rose' nem sequer chegaria a incomodar-nos e que o aglomerado de ventos que o compunham eram de fraca intensidade. Seria um alerta de rotina, não causando apreensões de maior para toda a população em geral, apenas se registando a queda de fracos aguaceiros que causam sempre ligeiros transtornos àqueles que têm de circular pelas ruas da cidade sem a utilitária companhia dum automóvel. Cerca da meia noite, o écran da televisão e as leituras do boletim meteorológico, mostrava-nos uma mudança brusca da direcção do Rose, Macau e Hong Kong, seriam dois pontos de escala na passagem diabólica de mais um flagelo natural que periodicamente assola estas paragens.
A cidade encontrava-se adormecida, quando a ventania se fez sentir - 02.30 horas da madrugada - rajadas ciclónicas muitas delas da ordem dos 100km/hora, açoitando impiedosamente o casario, vergando e derrubando árvores de grande porte, deitando abaixo num ritmo cadenciado e alucinante, tabuletas de anúncios luminosos, frágeis taipais e tapumes. Entretanto o 'Rose' fazia a sua entrada macabra na vizinha cidade de Hong Kong, onde impiedosamente destruía tudo à sua passagem. A Cidade do Nome de Deus, seguia atentamente entre "quatro paredes", o desenrolar furioso do 'Rose'. Às 03.00 horas, a direcção do vento parecia querer mudar de direcção, seríamos poupados mais uma vez desse monstruoso fenómeno de estio, que anualmente tanta miséria causa e tantos danos provoca. O uivar do vento amainava, a manhã desapontava sombria, mas graças a Deus, nada de catastrófico haveria para relatar.
Apenas algumas árvores não resistiram à fúria dos elementos, aquelas que tombaram para o meio das ruas, impedindo a circulação do trânsito, foram prontamente retiradas pelas equipas de prevenção dos serviços municipais. A maioria das barracas de banho do porto Exterior, devido à fragilidade da construção desabaram sem consequências de maior. O mesmo não aconteceu com o parque provisório para os carros de turismo, sito à entrada da Avenida Dr. Oliveira Salazar, que abateu totalmente causando ligeiros prejuízos nas viaturas que ali se abrigavam. Outros danos de pouca monta, referem-se aos taipais e tapumes que guarneciam as áreas das futuras construções para habitação, havendo também a registar a danificação de tabuletas de anúncios luminosos. Felizmente, muito pouco em comparação com a dimensão dos ventos da morte do 'Rose'. O circuito telefónico entre Macau e Hong Kong ficou interrompido, recomeçando a funcionar às primeiras horas da tarde de ontem, dia 18."
Testemunho de António Manuel Fontes Cambeta
"No dia 16 de Agosto de 1971, na companhia da minha mulher fomos no navio Fat Shan para Hong Kong onde ao chegar nessa manhã ficámos a saber que tinha sido içado o sinal 1 de tempestades tropicais, pelo que regressámos a Macau no primeiro navio. No caso, o navio "Macau". O navio Lee Heng, um antigo barco de carreira entre Hong-Kong e Macau, afundou-se, numa zona entre Sham Shui Po e Lai Chi Kok, tendo perecido dois dos seus nove tripulantes, o mesmo não se poderá dizer do navio Fat Shan, que após ter sofrido dois abalroamentos, afundou-se ao largo da Ilha de Lantau. Da sua tripulação de 92 pessoas, só quatro sobreviveram. O navio Macau também sofreu alguns rombos, mas felizmente não causou mortes."

Typhoon "Rose" was one of the most intense and violent typhoons that have affected Hong Kong. Maximum wind speeds were only slightly lower than in Typhoon "Ruby" of 1964 and Typhoon "Wanda" of 1962 and they occurred during the night whereas both "Ruby" and "Wanda" passed in daylight. Like other tropical cyclones that approached from the south, such as Typhoon "Mary" of 1960, "Rose" caused very heavy rainfall. The strongest winds were from the east-southeast whereas in "Wanda" the strongest winds were from the north.
(...) Tragically, "Rose" was the worst typhoon for fatalities and heavy damage to property in Hong Kong since Typhoon "Wanda" in 1962. In general, heavier damage was reported in the western than in the eastern side of the Colony. Over 30 ocean-going vessels went aground or suffered collision. About 300 small craft, including 100 pleasure craft, were sunk or damaged. Three of the 14 hydrofoils on the Hong Kong - Macau run were severely damaged and a total of 6 Hong Kong & Yaumati ferries went aground while taking shelter in Kowloon Bay. In addition, the "Fat Shan", a Hong Kong - Macau Ferry, capsized and the 'Lee Hong', a laid-up ferry vessel, was sunk. The death toll from Typhoon "Rose" stood at 110 confirmed deaths. Most of the deaths occurred on board the capsized "Fat Shan". Of the 92 people on board, there were only four survivors, 73 confirmed deaths and the others were still missing and presumed dead. 286 persons were injured of whom 90 had to be hospitalized.
O Fat Shan fotografado por Carlos A. Dias junto a Macau em 1970
A total of 5,644 people from 1,032 families was made homeless and 653 huts were destroyed. About 24 buildings were damaged in 12 locations, of which 6 were beyond repair or collapsed. Cables affecting some 30,000 telephones were out of order. There were numerous landslides resulting in 110 cases of road blockage of which 30 were serious. Flooding occurred in 35 locations in low-lying and coastal areas. Fallen scaffoldings and signboards, uprooted trees and broken boughs were common scenes all around the city.
Amidst the fury of Typhoon "Rose" a fire broke out shortly after 9.00 p.m. on August 16 in a large power sub-station in Kwun Tong, Kowloon and the flames were fanned by the high winds to such an intensity that firefighters were unable to control it at times. Although the fire was put out at about 10.30 p.m. it triggered a general power failure, resulting in a blackout in Kowloon and the New Territories. Thousands of people were trapped in elevators during the power cut. There were 43 fire alarms altogether. (...) 
Extract from the Observatory's Publication "Meteorological Results 1971, Part III - Tropical Cyclone Summaries" - Hong Kong Observatory

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Urbano Tavares Rodrigues: 1923-2013

A propósito da morte de Urbano Tavares Rodrigues (UTR) há poucos dias, serve este post para recordar um dos maiores escritores portugueses do século XX e que na sua escrita contemplou Macau.
Como jornalista trabalhou no Diário de Notícias (para onde entrou em 1946), Diário de Lisboa, Artes e Letras, Jornal do Comércio e O Século, entre outros órgãos, e enquanto escritor assinou uma obra (cerca de 100 títulos) em que expressou preocupações sociais e tendências políticas.Preso pela PIDE em 1963 e 1968, foi neste período que escreveu “Contos de Solidão”. Em 1969 filiou-se no PCP, pelo qual chegou a ser eleito deputado, embora não tenha aceite exercer o mandato.
UTR foi distinguido com os galardões literários da Associação Internacional de Críticos Literários e da Imprensa Cultural, os prémios Ricardo Malheiros, Aquilino Ribeiro, Fernando Namora, Jacinto do Prado Coelho, Camilo Castelo Branco e o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (2003).
Algumas das obras que deixou: “Bastardos do Sol”, “Dissolução”, “Estrada de morrer”, “Agosto no Cairo: 1956”, “O Tema da Morte na Moderna Poesia Portuguesa”, integrado depois em “O Tema da Morte: Ensaios”, “O Algarve na Obra de Teixeira Gomes”, “A Saudade na Poesia Portuguesa”, “A Natureza do Ato Criador”, “O último dia e o primeiro”, “Contos da solidão”, “Os insubmissos”, “Tempo de cinzas”, “Torres Milenários”, “Bastardos do Sol”, “O Algarve em poema”, “Os Cadernos Secretos do Prior do Crato”.
O romance editado em 2000, “O Supremo Interdito” é um "thriller psicológico, que tem como protagonista o serial-killer Alcino Romeu Carrasco, desenrola-se também a Oriente, com o final da década de 1990 em Macau a servir de cenário para a deriva nocturna do personagem atormentado, “um homem sem qualidades”, que encontra o exotismo do exotismo numa euro-asiática de olhos azuis, e, por fim, a brutalidade de um crime."
O capítulo “A Chinesa de Olhos Azuis” foi escolhido por Urbano Tavares Rodrigues para ser divulgado em pré-publicação numa edição da Revista Camões destinada a assinalar a transferência de Administração de Macau, no final de 1999. A primeira imagem deste post é retirada daí.

Ainda a propósito de UTR regferência para o livro "Quatro Estações - Memórias de um Portugal Maio, (romance) editado em 2011 pela editora Âncora da autoria de José Maria Rodrigues da Silva (juíz). Urbano Tavares Rodrigues considera-o "um grande romance interrogativo". O poeta brasileiro Ivan Junqueira, que o prefacia, chama-lhe, en passage "um romance insólito", o que quer dizer extraordinário, fora do vulgar. João da Fonseca, o narrador, tinha três objectivos na vida: escrever, descobrir o mundo que os portugueses construíram e encontrar o sentido da vida. Um pai tirânico impede-o de tentar realizar logo o que sonhara. Mas a mãe, ao morrer, deixa-lhe uma fortuna imensa que ele delapidará em favor dos que mais precisam. (...)  Só depois vai peregrinar por Macau, Goa, Malaca, Nagasaki, Tanegashima e, por fim, pelo Brasil. Descobre que em todos esses lugares a marca que os portugueses deixaram se mantém viva. Este romance é uma conciliação entre o patriotismo e a solidariedade, uma crítica do individualismo egoísta, a exaltação da gesta de quinhentos e uma procura do sentido da vida. Texto de apresentação do livro.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A construção dos muros na Ilha Verde

Quando por ordem do Conselheiro Borja se começou em 1890 a construir o dique para ligar a ilha Verde à península de Macau, o bispo D. António Joaquim de Medeiros começou a perceber quais poderiam ser as intenções do governador. Lembrou-se então que, já em 1873 o delegado do Procurador da Coroa e Fazenda contestara o direito do Seminário de S. José à posse da Ilha Verde, pois aí pretendia fazer um logradouro público. Como o tribunal decidira a favor do Seminário, o problema parecia ter ficado resolvido. Agora, seria possível que, com a construção do istmo, se voltasse a pensar fazer da Ilha Verde, com uma frondosa vegetação, um lugar privilegiado de recreio para a população de Macau?
Pelo sim, pelo não, o bispo D. António Joaquim de Medeiros (1885-97) mandou amuralhar a ilha, que pertencia ao Seminário de S. José. Também a questão do muro, que em 1834 estava já feito em três quartas partes, apesar do edital de 3 de Setembro de 1831, redigido pelo mandarim Cso-tang de Macau, proibir a construção de muros na ilha Verde pois o terreno fora dos muros (da cidade cristã) pertencia ao palácio imperial, parecia ter ficado resolvida após 1849, com Ferreira do Amaral. Assim, ao terminar a obra do dique, o bispo mandou fechar o portão da ilha Verde, participando em 19 de Janeiro de 1892 ao governador que todas as vezes que quisesse ir lá para piquenique, pedisse a chave ao reitor do Seminário.
No dia da inauguração do dique, o prelado “escreveu ao governador a felicitá-lo e a oferecer-lhe hospedagem na Ilha” nestes termos: “Quando lá quiser ir descansar ou veranear, é só pedir a chave ao Reitor do Seminário, que terá muito gosto em lhe ser agradável”. Foi só pelo “memorandum” n.º 2 apresentado pelo Comissário Chinês Kao, na 3ª sessão de 2 de Agosto de 1909, da Comissão de delimitação de Macau e suas dependências, que teve lugar em Hong Kong, sendo Alto-Comissário por parte do Governo Português o general Joaquim Machado, que o governo chinês reconheceu expressamente a ocupação portuguesa na Ilha Verde.
Os aterros da Ilha Verde
Não deixa de ser curioso o facto da propriedade da diocese se restringir à parte montanhosa da ilha e a algumas dependências da antiga fábrica de cimento, com os seus campos de recreio e anexos. Já a parte plana, que se estende até à beira do rio e ao Canal dos Patos, foi sendo ocupada por população chinesa. De ambos os lados da montanha, com o tempo, os terrenos foram invadidos e depois vendidos, a particulares, para construção. Dado o grande número de refugiados chineses devido à Guerra Sino-nipónica, as casas da Ilha Verde que ficavam fora do muro do Seminário foram já antes de 1940 arrendadas a vários chineses para habitação, indústria, armazém e escolas.
O Bairro da Ilha Verde foi construído com barracas e as 12 ruas que o compõem têm o nome com números. Em 13 de Dezembro de 1950, o bairro foi palco de um incêndio, que deixou sem abrigo 2.500 chineses pobres. O Governo da Província, com a colaboração da Comissão Central de Assistência Pública e das três principais associações chinesas, reconstruiu no espaço de um mês o bairro. Para a sua segurança, a C.C.A.P. dotou-o com um posto de incêndio e uma retrete pública. Também foi construído um amplo barracão onde foi instalada uma escola gratuita para as crianças aí residentes.
Mas de novo, em 10 de Janeiro de 1955, um outro incêndio devorou todas as casas feitas de madeira, ficando sem habitações cerca de 5 mil chineses. Com a contribuição de Macau, passado um mês e meio já as novas casas de zinco estavam prontas.
O padre Lancelote angariou apoios para serem construídas centenas de casas de pedra, no istmo da Ilha Verde e aí fundou a Casa de S. José em 1957, hoje Escola de Santa Teresa do Menino Jesus.
O padre Manuel Teixeira diz: “Na zona SW desta pequena ilha, ora ligada à Península pelo Istmo Conselheiro Borja, encontra-se um vasto recinto vedado, ainda hoje (1960) ocupado por dependências do Seminário de S. José. Este recinto, que pela vegetação existente, facilmente se constata que seguia pela orla oriental englobando, antigamente, terrenos que, hoje, fazem parte da Companhia Independente de Caçadores nº 3, que, por aluguer, os ocupa”...”Hoje da opulenta e riquíssima vegetação, já, pouco, resta, pois, entregues à Natureza, à míngua de cuidados especiais, que o seu exotismo requeria, muitas espécies foram degenerando e morrendo. Por outro lado, a cobiça e a ignorância de certos homens, a pouco e pouco acabaram por destruir as espécies mais valiosas tais como árvores de sândalo, que, há menos de meio século, ainda existiam dentro da zona militar.”
Nos anos 80 em torno da ilha foi-se conquistando terra ao rio, para onde foram colocadas muitas empresas. Segundo Silveira Machado no seu livro Macau na Memória do Tempo “O aplanamento à volta da ilha (realizado nos anos 80 do século XX), a construção de cais e pontes ali próximo, o alinhamento do rio naquela extensão e para o lado do istmo, permitiram que outras indústrias ali se instalassem, contando-se entre elas, além de outras de menor volume, uma fábrica de papel de embalagem, cartão e cartolina, uma fábrica de gelo, outra de fabrico de louça esmaltada e, ainda uma de produtos de espuma de borracha. Assim, foi-se modificando o aspecto físico e paisagístico da ilha, o que levou a um crescimento das actividades concentradas nessa zona. E, hoje, a par de outras unidades industriais, de oficinas de reparação de carros, e de bastante comércio, ali laboram dois complexos de relevante importância para a economia de Macau e abastecimento da sua população: o Matadouro de Macau e a Fábrica de Coca-Cola.”
No final do primeiro decénio do terceiro milénio, na parte Noroeste da zona da Ilha Verde começou a construção de dois enormes edifícios para habitação económica. Parada há uns anos, encontra-se a fase de preparação do terreno para albergar a Universidade de S. José em terrenos da Ilha Verde. Presente na memória de todos está a recente demolição das barracas nos aterros da Ilha Verde.
Artigo da autoria de José Simões Morais, investigador, publicado no JTM de 5-9-2011