terça-feira, 2 de abril de 2013

Opium smuggling in China


Artigo de primeira página publicado em 1840 no jornal The Penny Magazine tendo com ilustração a baía da Praia Grande. Este jornal inglês publicou-se entre 1832 e 1845. Sobre o tema existem diversos post's. Este é apenas um deles.
Ainda sobre o comércio do ópio aqui fica um artigo da autoria de Leonel Barros publicado em 2009 no Jornal Tribuna de Macau.
Tempos de Ópio
Fortunas colossais foram arrecadadas desde que um decreto real de Lisboa, publicado em Abril de 1802, concedeu aos moradores de Macau o privilégio exclusivo da importação do ópio. Após a publicação desse documento, foi estabelecida em Macau uma fábrica de ópio, na zona do Porto Interior, onde o produto era cozido. Mal chegava à fábrica, o ópio era diluído em água, mexido e submetido a uma série de operações que exigiam muita perícia.
Assim se obtinha uma massa pouco consistente e de cor acastanhada, que permitia ao manipulador encher duas semiesferas de barro ou de metal, que depois de ligadas entre si e após o arrefecimento, formavam uma autêntica “bola”. O produto era, então, metido em caixotes de latão, que depois eram soldados, para fins de exportação, ou em potes de barro destinados aos pequenos consumidores. Naqueles tempos, o ópio valia mais do que o ouro, e todo aquele que trabalhasse nesse tipo de negócio facilmente se tornava milionário em pouco tempo.
Em 1729, a China proibiu a importação do ópio devido aos seus efeitos nocivos e também porque muitas pessoas vendiam todos os seus bens só para o adquirir. Além disso, muitos soldados do exército chinês contraíam o vício do fumo do ópio, tornando-se, assim, homens inúteis para a nação e sociedade. Apesar da proibição, o ópio continuou a passar de mão em mão na China, a ponto de muitos ricaços chineses acabarem por adquirir barcos rápidos, utilizados para o serviço de contrabando, que recebiam o produto dos navios estrangeiros em alto-mar, ou próximo do estuário do Rio das Pérolas. O preço do ópio subiu vertiginosamente e os comerciantes e contrabandistas enriqueciam de dia para dia. Nessa época, Macau não era ainda considerado território chinês, pelo que o comércio do ópio florescia com vantagens para os portugueses.
Cantão era igualmente uma das zonas de maior tráfego desta droga, o que levou o Imperador Tau Kuan (1821-1850) a ordenar ao seu comissário especial, de nome Lin Tsé Su, que se deslocasse àquela cidade chinesa a fim de proibir e investigar o negócio do ópio, erradicando-o de uma vez por todas. Todo aquele que fosse apanhado a fumar ópio mais do que uma vez, era julgado e depois fuzilado ou decapitado.
Lin chegou a Cantão a 10 de Março de 1839 e começou a averiguar o tráfico e consumo de ópio, visitando estabelecimentos de fumo. Com o objectivo de conhecer melhor a opinião dos estrangeiros sobre o tema, o enviado do Imperador convidou tradutores para sua casa, que lhe traduziam as opiniões expressas nos jornais. Foi assim que tomou conhecimento de que os viajantes comerciais estrangeiros das Treze Casas de Cantão (Shamin) eram os maiores traficantes de ópio, ajudando os seus conterrâneos no tráfico.
Entretanto, um governador da província de Hunan ordenou a queima de 20 mil caixas de ópio. Muitos estrangeiros não acreditavam que os chineses estivesse determinados a destruir todo o ópio, mas na verdade foi isso que aconteceu. Entre os dias 3 e 25 de Junho de 1839, uma extensa praia da referida província chinesa transformou-se numa enorme fornalha. Cada caixa queimada continha cerca de 200 “bolas” de ópio, pesando cada uma cerca de 5 quilogramas. Uma semana mais tarde, Lin decretou o confisco de todo o ópio armazenado pelos comerciantes estrangeiros nas suas feitorias de Cantão, bem como a bordo dos navios estrangeiros que se encontravam no porto, ameaçando com pena de morte todos os que desobedecessem a essa ordem.
No entanto, o comerciante Lancellot Dant não fez caso do aviso, tendo até ordenado que os navios carregados de ópio saíssem de Cantão, entregando apenas mil caixas de ópio. Insatisfeito com a atitude de Dant, Lin ordenou a sua detenção, confiscando-lhe o documento de viagem. Ao tomar conhecimento do sucedido, Charles Elliot, cônsul-geral e comerciante de Inglaterra em Cantão, recomendou a Dant que fugisse o mais depressa possível e que se refugiasse em Macau. Seguidamente, Elliot comunicou os acontecimentos às autoridades de Londres e, em retaliação, em Junho do ano seguinte, estas enviaram uma grande frota de navios para atacar a China, resultando daí a chamada “Guerra do Ópio”, de 1840. Mas a chegada da frota demorou, e Dant acabou por ser preso. A liberdade ser-lhe-ia dada se todo o ópio fosse entregue no prazo de três dias, caso contrário o Consulado britânico seria encerrado. Decorrido o prazo fixado, e como o ópio não foi entregue, Lin ordenou a retirada dos empregados chineses e o encerramento do Consulado, tendo mais funcionários ingleses procurado refúgio em Macau. Outros comerciantes ingleses começaram a ver-se pressionados, o comércio tornou-se cada vez mais difícil, e Elliot acabou por ver-se obrigado a entregar toda a droga às autoridades chinesas.
1841
Ao inteirar-se de que uma grande frota de navios ingleses estaria a caminho da China, o governo chinês ordenou a construção de algumas fortalezas, adquirindo peças no estrangeiro e recrutando ao mesmo tempo muitos soldados e marinheiros. Quando os navios ingleses chegaram ao porto de Cantão, foram surpreendidos pela barragem de fogo das fortalezas guarnecidas por tropas chinesas, o que obrigou os marinheiros estrangeiros a bater em retirada e seguir em direcção a Pequim.
Dias depois, as forças chinesas foram facilmente batidas pela Inglaterra. Resultado: em 20 de Janeiro de 1841, reuniram-se o comissário imperial Lin e o plenipotenciário Elliot, que residia temporariamente em Macau, para a assinatura de uma convenção que redundava em pesadíssimos encargos para a China. Nessa mesma data, Elliot fez publicar uma circular declarando que, em virtude da convenção que acabara de ser assinada, a China cedia à coroa de Inglaterra a ilha de Hong Kong, pagando além disso uma indemnização de 6.000.000 de patacas e era obrigada a abrir, no prazo de dez dias, todas as portas da China ao comércio europeu.
A 26 de Novembro de 1842, os ingleses triunfantes ocuparam a ilha de Hong Kong em consequência do acordo. Por ordem do comodoro J. Gardner Bremmer, desembarcaram em Hong Kong os marinheiros de todos os navios ali ancorados, tomando posse da ilha em nome da Rainha Vitória. Dias depois, a Inglaterra declarou portas francas ao comércio mundial em Hong Kong e em Ting-hai. Através de Hong Kong, o ópio continuou a enriquecer a Inglaterra por muitos anos, até que o governo inglês, ao verificar os estragos que esta droga provocava na saúde da maioria dos residentes da colónia, decidiu controlar o comércio. Assim, a 21 de Maio de 1851 foi arrematado, pela primeira vez, o exclusivo do ópio em Macau. Em 21 de Janeiro de 1930, chegou a esta cidade uma comissão de inquérito para o controlo do ópio preparando para fumar no Extremo Oriente, designadamente, em Macau, Birmânia, Malásia, Indonésia, Tailândia, Indochina e Sião.
Nessa época, existiam algumas casas de ópio devidamente autorizadas pelo Governo de Macau, através do Conselho Legislativo e Administração do Ópio, que tinha como chefe de departamento do Dr. Pedro José Lobo.
Entre as casas de fumo, a mais procurada era a hospedaria “On Iok Iun”, estabelecida no n.§ 121 da Avenida Almeida Ribeiro, visto que o ópio ali fornecido era considerado de primeira categoria. Além dos seis quartos e camas em cada piso, possuía também um laboratório com fornos para o preparo de pequenas doses. Os restaurantes chineses de primeira classe também contemplavam quartos decorados com mobílias de pau-preto, com lamparinas e cachimbos destinados aos fregueses que consumiam ópio. Cá fora, era notória a miséria provocada pelo ópio, pois era costume verem-se indivíduos esqueléticos pelas ruas ou a dormir debaixo de arcadas, sob o efeito da droga.
Nota: Ratificação portuguesa da Convenção Internacional do Ópio, assinada na Haia em 23 de Janeiro de 1912, entre Portugal e outras nações. Em Junho de 1913 é assinado em Londres um acordo entre o representante de Portugal (P. de Tovar) e o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Inglaterra (Edward Grey). Este tem por fim a regulamentação do consumo, venda e exportação de ópio em Macau e Hong Kong. Regulava, ainda, de forma semelhante para as duas colónias a administração dos exclusivos do ópio em tudo quanto respeite à restrição de consumo, venda e exportação de ópio preparado e repressão do contrabando. Em Janeiro de 1914, pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, é publicada a carta de confirmação e ratificação da supracitada Convenção.

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