sábado, 9 de março de 2013

O diário de Walter Richardson (1902): exclusivo Macau Antigo - 3ª parte

 ... continuação
We went to the old stone gate between the Chinese and Portuguese territories and then returned to the hotel along good shaded roads lined with houses and pretty gardens.  At the hotel I met a gentleman and his wife from Los Angeles. They are making a tour of the world westward. After supper Mr. Bingham, the gentleman from Los Angeles, Mr. R.N. Gachwind, and I went down to one of the gambling houses to see what they do there. There are nineteen of these places which pay the government over $100,000 in gold a year. They all play fan-tan, which is played with Chinese brass money or cash, as it is called here. The man takes a handful of this, puts a cup over it, and then you bet so much on one, two, three, or four. If you bet on two numbers and win, they pay you back double, less 10 percent; if you bet on one number and win, then you get three times your money less 10 percent.  When the bets are made, the man lifts up the cup and with a stick counts out the cash four at a time from the pile; if you have bet upon three and there are three left you win and get three times your money. 

Para quem não domina o inglês apresento em seguida uma tradução/adaptação resumo desta viagem de 2 dias a Macau: 19 e 20 Dezembro 1902
Tradução, adaptação e notas à parte da minha autoria:
Macau, China sexta-feira, 19 de dezembro, 1902: O recepcionista do hotel (em Hong Kong) chamou-nos bastante cedo, tal como combinado. Tomámos um pequeno-almoço rápido de forma a conseguir apanhar o barco das 7 da manhã para Macau. Apanhámos duas ‘cadeirinhas’ (meio de transporte anterior ao riquexó) que nos levou até ao cais onde chegámos mesmo a tempo. A manhã estava bastante nebulosa e não pudemos apreciar a paisagem como gostaríamos. A primeira paragem que fizemos foi em Seng Chau, uma pequena e pitoresca vila de pescadores junto a Hong Kong. Ficámos ligeiramente ao largo. Algumas sampanas aproximaram-se do nosso barco para fazer o transbordo de alguns passageiros chineses. Uns saíram e outros entraram num corropio de movimentos. Bastam poucos para que façam muito barulho. Quem conduz as sampanas são as mulheres utilizando para isso uma espécie de remos muito compridos. Muitas delas vivem nestas embarcações juntamente com a família. Há sempre uma mulher com grandes calças no leme que é quem dá as ordens. Estamos atravessando o Rio das Pérolas e passamos por muitas ilhas montanhosas praticamente sem vegetação. Nestas ilhas, parece que não mora ninguém. Avistam-se muitos juncos e alguns passam bastante perto de nós. À meddia que a nossa viagem avança o mar torna-se mais agitado. O vento é muito forte e o nosso  pequeno barco oscila bastante. Fiquei enjoado uma meia hora. Estamos à vista de Macau agora. Parece muito bonito. O mar azul é pontilhado com as velas acastanhadas dos juncos. Os edifícios de cor branca e amarelo claro em contraste com o verde da restante paisagem fazem uma imagem bonita.
A pequena península de Macau é uma colónia de Portugal. Os portugueses ocuparam este lugar em 1622. (não está correcto; a data da fixação dos portugueses é 1554). Foi-lhes dada pelos serviços prestados no combate aos piratas que aterrorizavam a população ao longo da costa. O governo chinês exigiu o pagamento de dinheiro aos portugueses até 1848 em troca da sua fixacção. Em seguida, o governador tentou impedir isso, mas foi assassinado. Seguiu-se um período de grande confusão mas Portugal nunca perdeu o direito sobre Macau. Rumámos para o lado do Porto Interior e a muito custo lá conseguimos atracar num pequeno ancoradouro depois de passarmos por centenas de juncos e sampanas. É uma zona muito movimentada. É aqui que estão os grandes juncos com todos os tipos de carga. Alguns juncos estão equipados com canhões de ferro. Já não são tão utilizados como antigamente mas ainda existem piratas nestas águas. Vêm-se muitos barcos a descarregar peixe que depois é posto a secar. são das mais diversas espécies. Desde os quase transparentes aos muito coloridos. O cheiro é que nã é nada agradável. Apanhamos um jerinxá que nos leva ao hotel (do outro lado da cidade). No Hotel King Kee (King Hee, mais tarde Macao Hotel e hotel Riviera)) encontramos o proprietário. Um gorducho de bom aspecto que nos arranja quartos e nos trata do transporte para a nossa visita pela cidade. O hotel é um edifício bastante espaçoso e a mesa de jantar é de primeira classe. De seeguida saímos para um passeio pela Praia Grande, um local bastante aprazível que fica junto ao mar.  a rua extende-se ao longo da baía repleta de frondosas árvores. Subimos depois à fortaleza de S. Francisco onde tirámos uma fotografia da cidade. Ali ao lado há um jardim muito bonitos. (Jardim de S. Francisco). No regresso ao hotel assistimos a um desfile de casamento. Era impossível ver a noiva e o noivo. Eram transportados em liteiras de grande porte mas todas cobertas por tecidos de cores berrantes. Quem os transportava vestia de vernelho. No cortejo também participavam crianças. Todos eles carregavam grandes sinais vermelhos, decorados com caracteres chineses em cor de ouro. Atrás seguiam os presentes dos noivos que  consistem em peças de mobiliário suficiente para mobiliar uma casa. Era um cenário digno de um romance. No regresso ao hotel jantámos muito bem. Saímos já noite, cada um no seu jerinxá para ver a cidade. Os rapazes que conduzem os jerinxás estão tão habituados aos turistas que, mesmo sem dizer nada, levam-nos a ver todos os pontos turísticos e trazem-nos de volta para o hotel novamente. Mas se for preciso também nos transportam para as casas de jogo ou para o cais dos vapores. Bingham (o colega que o acompanha na viagem) fez uma visita às ruínas da Igreja jesuíta de São Paulo, destruída em 1835 por um incêndio. A fachada é de granito e tem algumas esculturas e estátuas de bronze. Junto às ruínas fica um dos mais antigos fortes portugueses e ainda é utilizado. De lá tem-se uma vista magnífica. Os rapazes dos jerinxás levram-nos depois ao jardim e gruta de Camões, nome do distinto poeta português (1524-1580). É um jardim muito bem cuidado. Há flores, pequenos montes de pedra, graciosas árvores de bambu... Numa encosta encontramos debaixo de uma enorme pedra uma estátua e algumas inscrições de Luís de Camões. De regresso aos jerinxás somos levados por ruas movimentadas até um mercado. Ali vende-se de tudo um pouco. Aves, frutas, ovos e todos os tipos de iguarias chinesas. Porcos vivos são guardados dentro de uma rede de bambu trançado. Paramos junto a um portão onde se vêm muitas crianças. Lá dentro é uma fábrica de transformação de seda. Centenas de mulheres trabalham intensamente cad auma com uma bacia de água quente à frente e com os casulos de seda ao lado. Quando saímos um grupo de crianças queriam "cumsha" (um presente). Dali seguimos até a fronteira de Macau com a China, a Porta do Cerco. As estradas estão muito bem tratadas tornado o passeio agradável. No hotel conheci um senhor e a sua esposa, de Los Angeles. Também andam numa viagem pelo mundo. Depois do jantar, o Sr. Bingham, o cavalheiro de Los Angeles, o Sr. RN Gachwind, e eu fomos até uma das casas de jogo (fan-tan) para ver o que eles fazem lá. Há 19 desses lugares na cidade e rendem de impostos ao governo uma receita na ordem dos $100.000 em ouro todos os anos. 
Era assim Macau no início do século XX...

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