sábado, 18 de junho de 2011

Tap Seac: um pouco de história

Tap Seac significa em chinês Torre de Pedra. Segundo o padre Manuel Teixeira: “Por este nome é conhecida a área da cidade situada de um e outro lado da rua do T’ap Seac, área esta mais ou menos limitada” pelo muro Leste do Cemitério de S. Miguel na “Rua da Esperança, parte da Estrada de Adolfo Loureiro, parte da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida e parte da Estrada do Cemitério”
O campo Tap Seac ia até à parte Norte da Avenida Vasco da Gama, onde existia a rua da Flora que mais tarde deu a rua Ferreira do Amaral, quando a avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida foi construída em 1895. Tal deve-se à necessidade de fazer o saneamento da zona de S. Lázaro, após uma epidemia de peste que no ano anterior aí fortemente se fizera sentir. Essa zona tinha más condições sanitárias e fora a mais afetcada, numa altura em que começava a ser bastante populosa e com alguma indústria.
Tap Seac em 1949. Foto Jack Birns

A várzea que englobava o Tap Seac era um foco de peste, onde proliferavam os insectos, o que também para ali trazia os pássaros e as flores, que por lá cresciam, disfarçadamente enfeitavam e coloriam aqueles campos lodosos.
As obras da construção da rua foram dirigidas por Abreu Nunes, mas feitas sem permissão do Governo Português e para amansar as reprimendas de Lisboa, sendo José Ferreira do Amaral Ministro da Marinha, foi dado o seu nome à rua com o título de avenida; ele que nunca visitou Macau e em 10 de Junho de 1891 propusera a venda das colónias portuguesas. As casas do Tap Seac no lado da avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida são de 1903 e continuaram a ser edificadas até ao segundo decénio do século XX. Aí encontramos um conjunto de edifícios com características neoclássicas e inseridos no Património da Unesco. Sofreram uma remodelação nas décadas de 70 e 80 do século XX e foram distinguidas com o primeiro prémio da PATA em 1982.
O campo do Tap Seac era um lugar pantanoso e nele existiu uma colina com três enormes rochedos sobrepostos e que pela sua forma se assemelhavam a um pagode, por isso conhecida pela Colina do Pagode ou do Rochedo. A várzea já tinha sido aterrada quando em 1905, as rochas foram dinamitadas e no terreno deu-se início à construção de um campo que contava na parte Sudeste com um poço. No início, esse campo era onde as crianças vinham colocar os seus papagaios a voar, como nos conta o escritor Henrique Senna Fernandes, sendo algumas dessas crianças do Asilo dos Órfãos e Idosos que em frente se situava e depois, quando aí foi colocado o Liceu passou a ser campo de recreio dos alunos desse estabelecimento de ensino.
O Liceu Infante D. Henrique em Macau andara a saltar de lugar em lugar e após ter sido instalado em 1894 no Convento de S. Agostinho, em 1900 passara pela Calçada do Governador e em 1917 foi transferido para onde é hoje o edifício conhecido como Hotel Bela Vista. O edifício do Tap Seac foi construído pela Santa Casa da Misericórdia no princípio do século XX para servir inicialmente como asilo para idosos e orfanato da Santa Casa da Misericórdia. A 20 de Abril de 1923, o governo comprou à Santa Casa o edifício da Boa Vista para o transformar de novo em hotel e o edifício do Asilo para ser o Liceu, onde começou a haver aulas em 1924.
No ano seguinte à mudança do Liceu para aquele lugar, foi construído o Edifício da Caixa Escolar, na parte Sul do campo plano do Tap Seac. De características neoclássicas, o edifício tinha à sua frente os campos desportivos. O campo maior foi pelado até aos anos 90 e depois, passou a ter relva sintética e servia para a prática de futebol e de hóquei em campo. Existiam outros três campos mais pequenos em cimento; um para basquete e vólei, outro também para essas duas modalidades e por fim um terceiro, um ringue para hóquei em patins, andebol e futebol de cinco. Os campos encontravam-se entre duas ruas cheias de trânsito, a avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida para os veículos que se dirigiam para Norte da cidade e a rua Ferreira do Amaral para os que se dirigiam em sentido contrário. Em 2005, esses campos, que tinham uma ocupação diária plena e constante, foram destruídos. Aí apareceu uma praça com calçada à portuguesa e por baixo um parque de estacionamento, com um túnel que desviava o trânsito da praça do Tap Seac para quem viajava para Norte. Assim um troço da avenida Conselheiro Ferreira de Almeida passou a ser pedonal e ficou inserido na praça. Também as árvores desapareceram da praça e hoje esta conta na parte Sul com um edifício envidraçado, mas ainda sem funções.
Anexo ao Liceu de Macau, na Av. Conselheiro Ferreira de Almeida (onde hoje funciona a Direcção dos Serviços de Saúde), foi inaugurado a 30 de Dezembro de 1934, um Ginásio que, para além das práticas desportivas, serviu para a realização de animadas festas e bailes. O ginásio foi desafectado e no edifício passou a funcionar o Dispensário Anti-Tuberculoso e um Posto Oftalmológico.
O Liceu Infante D. Henrique, que no Tap Seac funcionava desde 1924, saiu do edifício em 1958, e foi remodelado para os Serviços de Saúde de Macau. Voltou a estar em obras entre 1988 e 1991 quando foi demolido e construído um moderno edifício, para o mesmo fim. Já em 2005 foi de novo remodelado e passou a ser as instalações do Instituto Cultural.
A seu lado o Centro de Saúde e a Biblioteca Central e continuando na fileira de edifícios históricos, que eram moradias de habitantes ricos da cidade, o Arquivo Histórico e o Centro de Arte Moderna. Ao lado, no conjunto de quatro moradias hoje encontra-se, numa delas, instalado o Centro Ricci com a sua biblioteca e noutra, a Orquestra de Macau.
Foi com uma nova visão urbanística que o engenheiro Abreu Nunes, com o saneamento da várzea do Tap Seac, resolveu um problema para a saúde pública e preparou a cidade para se expandir para o campo que até então predominava na península de Macau.
Artigo da autoria de José Simões Morais, investigador, publicado no JTM de 10-6-2011
Nota: ao longo do blog existem centenas de imagens de locais e edifícios referenciados neste artigo pelo que sugiro uma pesquisa por palavras-chave. Por exemplo: caixa escolar, aterros, várzea, património. conselheiro Ferreira de Almeida, etc.

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